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QUEM FOI QUEM

“Chinchino”, querido por grande parte da população,

foi um fenômeno eleitoral


Quem pesquisar a política saltense antes e após a redemocratização do país, no final da década de 1940, vai se deparar com um personagem que marcou indelevelmente sua passagem pela política saltense. Seu nome: Vicente Scivittaro, mais conhecido como “Chinchino”, nome derivado do italiano “Vicincino” (pronuncia-se Vichinchino), ou Vicentinho. Pode ser considerado um verdadeiro fenômeno eleitoral, pois obteve vitórias consagradoras e marcantes nas disputas com seus adversários em várias eleições e foi muito querido pela população. Inclusive elegeu-se por duas vezes prefeito da cidade, em mandatos não consecutivos (na época não havia reeleição), ocupando a vereança em 4 oportunidades, duas delas como suplente e duas com titular do cargo.

Sua carreira política iniciou-se em meados da década de 1930, quando começou a se destacar, conseguindo uma suplência de vereador, ficando no cargo de 5 de janeiro a 5 de novembro de 1937. Quando da redemocratização do país, em 1947, participou novamente da eleição, porém ainda não conseguiu se eleger, mas como suplente exerceu o mandato de 2 de janeiro de 1948 a 31 de dezembro de 1951.

Sua atuação como vereador fez com que ele se tornasse conhecido da população, pois estava presente em todos os fatos que envolviam o interesse do povo, como greves em indústrias locais, nas quais tomava sempre o partido dos operários, mas participava das negociações, conseguindo alguns benefícios importantes. Com isso se qualificou para se candidatar a prefeito da cidade, no mesmo ano de 1951 (isso era permitido na época) obtendo uma grande vitória sobre o candidato da facção que governava o município há anos, representada por Francisco de Arruda Teixeira. “Chinchino” obteve 1.571 votos contra 890 de Teixeira.

Seu primeiro governo foi muito diferente do anterior, que teve como prefeito João Batista Ferrari (Tita), primando pela ousadia, enquanto Tita era mais comedido, fazendo as coisas sem muito alarde. “Chinchino” beneficiou-se das negociações feitas pelo seu antecessor, que tratava da vinda de grandes indústrias, instalando-se em seu mandato a Eucatex, Emas e Sivat, todas elas na margem esquerda do Rio Jundiaí. Também pavimentou com paralelepípedos várias ruas da cidade e embora houvesse proprietários que protestavam ter que pagar pelo serviço, agradou à maioria da população, pois poucas vias públicas eram pavimentadas.


Elegendo os sucessores

“Chinchino” em seus primeiros tempos como político saltense

Em virtude desse governo inovador, dizia-se que se “Chinchino” apoiasse “um poste”, conseguiria elegê-lo. Não foi bem isso que aconteceu, pois o indicado, Hélio Steffen, era uma pessoa esclarecida, inclusive atuava como líder de “Chinchino” na Câmara, além de ser um grande orador, que emocionava a plateia nos comícios. Como se dizia que o ex-prefeito interferia no trabalho de Hélio, este acabou rompendo com ele, transferindo-se para a oposição.

Quatro anos depois (1956) “Chinchino” voltava à Prefeitura, com uma votação ainda maior que a da primeira vez (2.522 contra 1.697 do adversário Annibal Negri). Embora sua atuação nesse seu segundo mandato não fosse tão boa como a do primeiro, mais uma vez conseguiu eleger seu sucessor, nas eleições de 1963, desta feita o professor Joseano Costa Pinto, que era um dos destaques da sua bancada de vereadores e que também se sobressaia como orador. Aconteceu o mesmo que havia ocorrido com Hélio Steffen: as interferências de “Chinchino”, que “queria continuar mandando”, fizeram com que Joseano também se bandeasse para a oposição.

Mas “Chinchino” havia sido eleito com a maior votação entre os candidatos ao Legislativo local (663, quase 3 vezes a mais que o 2º colocado, José Maria Servilha) e por isso se elegeu vereador nesse mesmo ano de 1963. Apesar de, na época, ter sido atacado por pertinaz doença, continuou fazendo política e pretendia indicar Alberto André Ferrari como seu candidato a prefeito de Salto, em 1968, mas veio a falecer três meses antes das eleições, não podendo participar da campanha, o que contribuiu para a derrota de seu indicado.


Deputado estadual

Já cego e doente, em 1968, “Chinchino” pretendia indicar Alberto A. Ferrari a prefeito de Salto

Em três ocasiões “Chinchino” candidatou-se a deputado estadual, enfrentando seu mais forte concorrente na cidade, o dr. José Francisco Archimedes Lammoglia. Na primeira, eleição de 1954, concorreu pelo PRP – Partido de Representação Popular e teve mais votos que Archimedes em Salto (1622 a 872), mas perdeu na contagem geral (3.264 a 3.160). Em 1958, ambos se enfrentaram novamente e “Chinchino” voltou a derrotar Archimedes em Salto: 2.533 a 1.275, porém outra vez foi derrotado na contagem geral: 9.113 para Archimedes e 6.214 para Scivittaro. Na terceira e última vez, em 1964, não houve modificação: 1.605 votos para “Chinchino” e 1.217 para Archimedes, que teve no total do Estado, 10.705 votos e mais uma vez reeleito.


Verdadeira adoração

O enterro de “Chinchino”, na foto subindo a Rua 9 de Julho foi um dos mais concorridos que aconteceram na cidade (julho/1968)

Em julho de 1968, quando aconteceu o falecimento de “Chinchino”, terminava a carreira política de um dos políticos mais capacitados para lidar com o eleitorado, que tinha uma atuação populista que agradava à maioria dos saltenses, muitos dos quais tinham verdadeira adoração por ele, pois estava sempre disposto a participar das causas que lhe eram apresentadas. Ele mantinha contato com todos, indistintamente, inclusive e principalmente com os mais humildes, e com isso se tornou querido e respeitado.

Frequentava bares, metia-se em confusões, tomava certas atitudes polêmicas e por isso a imprensa local, principalmente o jornal O Liberal, de Archimedes Lammoglia, fazia-lhe pesadas críticas, mas ele até gostava, pois dizia que quanto mais o criticavam, mais crescia o seu prestígio.

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