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REPETECO

Elegante, mas ruim de briga


Outro dia ouvi casualmente num programa de rádio (que dificilmente ouço) uma antiga música de Moreira da Silva, o Kid Morengueira, e mesmo sem ouvi-la na íntegra, me lembrei de sua letra. Conta o acontecido durante uma briga na gafieira e falava do Joca, “um crioulo comportado” e “ficou tarado quando viu a Dagmar, toda soltinha dentro de um vestido-saco e foi tirá-la pra dançar”. Ela “tinha ao lado um cara fraco”, só que o tal cara era “um faixa preta simplesmente, que fez o Joca bambolear sem bambolê”. Já viram o que aconteceu com o Joca, não é mesmo?

O Joca me lembrou o “Tervina”, que circulava pela cidade no tempo da minha juventude. Aos sábados, ao anoitecer, a gente o via pelas ruas do centro, muito bem vestido, com impecáveis ternos de linho branco ou de casimira de bom corte. Era magro e se expressava com dificuldade, aos soquinhos. Primeiro passava pelas barbearias, algumas das quais ficavam abertas aos sábados até 10 ou 11 da noite (principalmente quando havia bailes nos clubes locais), onde fazia a barba e aparava o cabelo, bem alisados com brilhantina “Glostora”. Depois passava pelo bar do Walter Nardelli ou outro da Rua 9 de Julho, onde ficava na porta observando o ambiente, chamando a atenção pelo modo correto de se vestir.

De madrugada ou na manhã do dia seguinte, a elegância do dia anterior tinha ido para o espaço: ele surgia com a roupa toda rasgada, às vezes sem paletó, um dos olhos inchados em virtude de fortes pancadas, além de outras marcas pelo rosto e corpo. Não precisava nem perguntar o que acontecera: como o Joca, “Tervina” tinha se metido com alguém bom de briga, ao tentar conquistar alguma garota, ou então tinha ido a algum baile em Itu, Porto Feliz ou Indaiatuba e lá apanhado de alguns que não topavam com saltenses metidos a besta.

Normalmente ele já era abusado, mas a situação se complicava quando ele tomava algumas das bebidas da época como Cubalibre, gim com tônica, Fogo Paulista, etc.

Um dia ele sumiu de Salto. Dizem que faleceu. Ficou a imagem de um moço que se transformava nas noites de sábado, passando de elegante a esfarrapado, e de quem nunca se ouviu falar que ganhou uma briga.

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