REPETECO
Marcas do passado
Para viajarmos hoje para São Paulo, de ônibus ou de automóvel, temos várias opções de rodovias: Anhanguera, Castelo Branco e Bandeirantes, sem contar os atalhos. Na década de 60, porém, a única opção era a Anhanguera, via Jundiaí, o que tornava a viagem um tanto complicada.
Dia destes resolvi fazer de carro o mesmo percurso do ônibus da Anhanguera de antigamente. A ideia era chegar na capital e andar sem rumo pelo centro, como às vezes fazia quando vivia na grande metrópole.
Fiz isso, entrando em São Paulo pela Lapa, ingressando nesse tradicional bairro paulistano através de uma rua de acesso à Rua Clélia, seguindo depois pela Avenida Francisco Matarazzo e atingindo o centro velho pelo “Minhocão”, através do Largo do Arouche, exatamente como fazia quando ainda não existiam as avenidas marginais. Deixei o carro num estacionamento da Praça da República e fui satisfazer a vontade antiga de andar a pé pelas ruas, avenidas e praças da região, entrando nas livrarias, dando uma olhada nos sebos, olhando as vitrines de algumas lojas, o movimento dos camelôs e dos personagens curiosos que a gente encontra a cada passo.
Observando os prédios enquanto andava, decepcionei-me com o da CVB, na Rua Conselheiro Crispiniano, ao lado do Teatro Municipal, meu primeiro emprego na capital: a fachada revestida de mármore, toda pichada, não mantendo a antiga dignidade; o andar térreo transformado em estacionamento e os superiores ocupados pelos sem-casa, todos eles com suas paredes pichadas.
Na frente do Cine Marrocos, que foi um dos mais elegantes de São Paulo, placas de “aluga-se” e mais pichações. Aquela padaria portuguesa, em frente ao Marrocos, onde um funcionário da CVB ia buscar sanduíches e pizzas para os que faziam hora extra, agora abrigava uma loja. A lanchonete ao lado do Art-Palácio, onde comia um inesquecível sanduíche de frios, com um pãozinho quente e crocante, virou bingo. O imenso prédio que abrigava o Mappin, em frente ao Teatro Municipal, virou loja de uma grande rede e o prédio da Light, na Xavier de Toledo, agora virou shopping.
Muitos saltenses, como eu, que conheceram a São Paulo daquela época, hoje quando vão para lá, constatam que a cidade mudou muito e o centro velho está totalmente deteriorado. Nossas vistas, por mais que se esforcem, já não enxergam as marcas de um passado que ficou apenas em nossas lembranças.
(Taperá – 10/09/2005)