REPETECO
Passat amarelo
Atire a primeira pedra quem não teve na vida um carro que odiou e do qual não sente nenhuma saudade. Quase todos nós tivemos, não é mesmo? O meu foi um Passat amarelo, ano 78, que achei o máximo quando comprei e que odiei durante o tempo que tive que suportá-lo (cerca de 8 longos anos). Foi na época em que construí minha casa e, como não tinha condições de trocá-lo, suportei sua convivência e com ele vivi os piores momentos de minha vida como motorista.
Uma vez pensei que ele tinha explodido. Viajava para Indaiatuba, numa tarde calorenta, quando de repente ouvi um barulhão e não enxerguei mais nada. O recipiente de água que refrigera o motor havia esquentado demais e subiu um vapor quente para o para-brisa, acabando com a transparência do vidro.
Isso aconteceu muitas vezes e, numa delas, quando voltava de Santos, antes da “explosão” tomei certa medida que achava correta para diminuir a temperatura da água: punha água gelada no radiador, mas era só trafegar alguns quilômetros que a temperatura subia e o vapor subia ao para-brisa. Resultado: saí de Santos às 7h30 e cheguei em Salto às 4 da tarde, tantas foram as paradas na estrada (procurando algum lugar que vendesse água gelada).
Muitas vezes o Passat pifava. Numa dessas ocasiões eu voltava de São Paulo com a família, pela Castelo Branco, ao entardecer. Ao entrar no acesso para Itu e Salto, ele parou e não havia jeito de prosseguir. Deixei os familiares naquele local e fui procurar socorro. O lugar mais próximo era um motel e para lá me dirigi. Fui recebido por pessoas desconfiadas (inclusive havia um vigilante, armado com carabina, sobre a fachada, que pediu que eu mantivesse distância). Ele os demais ficaram imaginando o que pretendia um sujeito sozinho, sem carro, naquela hora, num motel. Expliquei à moça da portaria o meu problema e ela permitiu que eu usasse o telefone (que falta fazia um celular!), mas que fosse breve, hein!
A linha era rural, com muito chiado. Depois de muitas tentativas, usando uma telefonista, consegui falar com um concunhado. Pedi-lhe que fosse me buscar e que trouxesse um mecânico para consertar o carro. “Onde você está”, perguntou. “Aqui no motel, perto da Castelo Branco”, respondi. “Num motel? Explique direito isso, rapaz”, ele disse. Não dava pra explicar, a ligação estava muito ruim, mas cerca de meia hora depois ele chegava com o mecânico e o problema estava resolvido.
Estava nada: eu havia parado o carro ao lado de um formigueiro e tive que vir até Salto com o pessoal sendo picado pelas formigas, que haviam invadido o famigerado e odiado Passat amarelo. Se parasse para botar as formigas pra fora, o miserável poderia empacar de novo!
(Taperá 11/02/06 – livro Croniquetas)