REPETECO
“Flashs-back” de Natal
Não sei se acontece com vocês, mas quando chega esta época de Natal me vêm à lembrança algumas imagens da infância, em “flashs-back”. Elas mostram, como em trailers de filmes, alguns momentos que nos proporcionaram prazer, relacionados a essa festa e a de fim de ano.
Vejo-me indo buscar, com uma carriola, vinhos, cervejas e refrigerantes que meus pais adquiriam na fábrica de bebidas do Ivo Lenzi, no Largo São João e que eram consumidos nos almoços festivos, com a participação de muitos parentes, de Salto e de fora; vou buscar um pão de mel que as madres distribuíam todo final de ano para os alunos do Coleginho, que ainda funcionava na praça principal; na véspera de Natal; vejo meu pai cortando a grama do quintal da casa da Vila Brasital, para colocar na caixa de sapato, embaixo da cama, que aguardava a chegada do Papai Noel; passo em frente às duas livrarias da cidade e vejo expostos para a venda os “cartões de críticas” que as pessoas enviavam aos amigos ou aos desafetos, a estes sem se identificar, mostrando desenhos curiosos e às vezes bastante ofensivos; nos espelhos das barbearias já estão registradas as mensagens de Natal, em tinta removível, trabalho executado por especialistas em escrita em muros, como o Roquinho; nos açougues as encomendas de leitoas para as festas de final de ano se intensificam; caminhões das vinícolas Donalizio e Milioni reforçam o estoque de champanhes e vinhos, por eles produzidos, nos bares e restaurantes; os armazéns expõem, logo na entrada, os sacos de nozes, avelãs e outras frutas natalinas, todas importadas e vendidas a granel; os operários das indústrias locais exibem os envelopes rechegados com o dinheiro do “abono de Natal”, precursor do 13º salário, mostrando um sorriso que só se via no final do ano.
Imagens da época da inocência, melhores ou piores que as de hoje, mas que nos proporcionam muitas lembranças de um tempo em muitos eram felizes. E sabiam.
(Do livro “Croniquetas” – 2006)