REPETECO
Euforia turística
Domingo de sol radiante, no final da década de 60. Dezenas de ônibus de excursão estão estacionados na Rua José Weissohn e nas praças próximas (a da igreja e a atual Archimedes Lammoglia). A quantidade de carros também é muito grande e, olhando as placas, vamos ver que a maioria procede de São Paulo, outros de Santo André, Jundiaí, São Bernardo, Campinas, Sorocaba, Porto Feliz, Itu, etc. O diretor de Turismo da Prefeitura, João Sebastião Ferraro, que mora na Rua José Weissohn, está radiante e passa quase o domingo todo na rua, apreciando o vai-e-vem dos ônibus, dos carros e dos turistas.
Pra onde vai toda essa gente? A maioria até o mirante construído às margens do Tietê, sobre o Restaurante do Salto, para apreciar a bela paisagem proporcionada pela cascata. Outros ficam sob as árvores do Jardim Público ou descem pela margem direita do rio. O passo seguinte é se dirigir ao Restaurante do Salto para degustar o pintado na brasa, prato que virou referência e que atrai um grande número de fregueses. Justiça se faça: o prato primeiro ficou famoso no restaurante de Piracicaba, às margens do rio com o mesmo nome. É que Olindo Rondina, proprietário daquela casa, assumiu a direção do restaurante saltense e trouxe a atração para cá.
Mas não era o único prato famoso: muitos dos comensais pediam também o “jiboliano”, um peixe ao molho branco, muito saboroso e preparado com todo o capricho. O nome do prato foi uma homenagem ao então prefeito Joseano Costa Pinto, que alguns mais íntimos e mais gozadores chamavam de “Jibóia”, apelido de um funcionário municipal que exagerava nas biritas. O restaurante servia também outros tipos de carnes, camarões e até lagostas, sendo seu cardápio variado uma das razões do seu sucesso.
As mesas começavam a ficar totalmente ocupadas a partir do meio-dia e até pouco antes das 4 da tarde, quando fazia bom tempo, havia fila de espera. No trecho de acesso ao restaurante, barracas vendiam pipoca, doces, sorvetes e quinquilharias. “Minhocão” estava sempre por ali, oferecendo o “sorvetão”, muito antes de Itu explorar esse produto entre suas “coisas grandes”.
Infelizmente, a euforia turística durou pouco. O mau cheiro que o rio exalava, a má administração do restaurante por parte de outros donos, e a falta de incentivo ao turismo fez com que os turistas que vinham a Salto nos finais de semana fossem escasseando, até sumirem de vez.
Agora que a cidade é estância turística, a gente fica torcendo para que os turistas voltem a gastar seu dinheiro em nossos restaurantes, pois o do Salto não existe mais, assim como nos bares, nas lojas e nas barracas. Quando isso acontecer, João Ferraro já não poderá dar voltas na José Weissohn e nas praças próximas, para ver emocionado o regresso dos ônibus e carros. Mas “Minhocão” talvez reative a venda do “sorvetão” e, lá do céu, Joseano, com toda certeza, sorrirá de satisfação para seu povo “honesto, trabalhador e amigo”, como ele chamava sua gente ao iniciar seus discursos.
(Livro “Crônicas da Cidade” – 2002)