QUEM FOI QUEM
Vicente Donalísio várias vezes premiado
como produtor de uvas finas e vinhos
Duas famílias se destacaram no século passado como produtores de uvas e de vinhos em Salto: Milioni e Donalísio. Curiosamente, os fundadores de ambas as vinícolas procediam da Itália e vieram para o Brasil e aqui puderam desenvolver seus conhecimentos ligados à vitinicultura. No que se refere à família Donalísio, quem deu início à produção de uvas finas foi o italiano Vicente Donalísio, natural de Carnignola, onde nasceu em 14 de abril de 1874.
Ele veio para o Brasil em 1897 quando contava 23 anos de idade, trabalhando inicialmente em Americana e Santa Bárbara do Oeste, mudando-se para Salto em 1904. Em 1909, depois de ter sido comerciante, adquiriu um sítio no Bairro do Buru, onde passou a se dedicar à vitivinicultura, especializando-se em uvas finas, cujas mudas importava da Itália, França e Argentina, aclimatando-as ao solo local. Foi um trabalho pioneiro que lhe rendeu diversos prêmios em exposições, começando na que se realizou no Rio de Janeiro, em 1916.
Sua produção se tornou famosa, o que atraía para sua propriedade em Salto pessoas ilustres, como Washington Luiz, presidente de São Paulo (cargo equivalente ao de governador) e 3º presidente do Brasil; Carlos de Campos (também presidente do Estado de São Paulo); Júlio Prestes (eleito presidente da República, não tomou posse); Fernando Costa, que foi ministro da Agricultura; ministro Góes Monteiro; Arthur Bernandes (também presidente da República); governador Adhemar de Barros e outros.
Além do 1º prêmio conquistado no Rio de Janeiro, Vicente conquistou muitos outros, como o do Centenário da Independência do Brasil, em 1922 e em Jundiaí (1934 e 1938). Ele participava incentivado pelo então prefeito de Salto, Francisco Teixeira, e justificou o apoio recebido, pois em 1934 conquistou com suas uvas e seus vinhos os prêmios principais. Em 1938 o sucesso foi ainda maior, pois ganhou a taça do Prêmio Geral, medalhas de ouro e mais 15 primeiros prêmios em Jundiaí, sendo recepcionado em sua cidade pelas autoridades, pelo povo e pelas bandas de música. Também recebeu a homenagem do dr. Pereira Barreto, ilustre cientista, famoso apaixonado pela vitivinicultura.
Chácara Donalísio
A partir de 1924 as uvas tinham passado a ser produzidas numa chácara que Vicente adquiriu do dr. Henrique Viscardi e que veio a ser conhecida como Chácara Donalísio. Nesse local passou a industrializar parte da produção de uvas, transformando-a em excelentes vinhos, dentre eles o famoso champanhe, cujas vendas eram consideráveis nos finais de ano. Ao mesmo tempo cultivava café numa fazenda que tinha adquirido no norte do Paraná. No final da década de 1940, já idoso e cansado, retirou-se da Vinícola Donalísio, entregando a direção aos seus filhos Arthur e Francisco, que foram sucedidos posteriormente pelos netos do fundador.
Grande benfeitor
Além de suas atividades na vitivinicultura, Vicente Donalísio se destacava também como grande benfeitor, embora fosse avesso à divulgação de suas ações nessa área. Graças à amizade que tinha com o dr. Pereira Barreto, que além de vitivinicultor era diretor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, encaminhava muitas pessoas carentes de sua cidade para referido hospital. Na capital elas conseguiam realizar as cirurgias que necessitavam e recebiam também medicamentos. Se não tinham condições, Vicente pagava suas passagens e outras despesas de viagem. Não deixou também de dar seu apoio à Sociedade São Vicente de Paulo, à Escola Anita Garibaldi e aos saltenses internados no Asilo-Colônia de Pirapitingui.
Vicente atuou também em diversas entidades locais, a maioria das quais ele auxiliava, como aconteceu quando se aliou ao dr. Henrique Viscardi, formando uma sociedade filantrópica em benefício do povo, oferecendo recreação a todos. Foi ainda um dos fundadores da Cooperativa Operária Saltense e também demonstrou seu interesse pela educação de crianças e adultos, dedicando-se à alfabetização gratuita, nos primeiros tempos de sua atuação em Salto.
Homenagem
Vicente Donalísio foi homenageado pela Prefeitura de Salto, em 1978, quando foi dado seu nome a uma das ruas do Jardim Independência, que fica próximo ao Jardim Donalísio, onde ficava a chácara de propriedade de sua família.
Família
Ele era casado com Magdalena Ferrero Donalísio, com quem teve os filhos Arthur, Francisco, Catatrina (Nina), Joana, Ada e Anita. Alguns dos seus netos, como Vicente e João Donalísio sucederam seus pais na direção da Vinícola, que encerrou as atividades no final da década de 1980.
Seu falecimento ocorreu no ano de 1953.