REPETECO

Prefiro os Beatles

Caramba: 1 milhão e 200 mil pessoas na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro; quase 200 mil pagando até 400 reais por um ingresso no Morumbi, em São Paulo. Isso já não é gostar, é fanatismo. E daqueles.

Teve gente que saiu de Salto no sábado pela manhã, assistiu ao show dos Rolling Stones no Rio e voltou correndo. Nem olhou para o lado do mar. Outros foram um dia antes do show para São Paulo, com o ingresso nas mãos, e esperaram o início da apresentação do U2, sob sol e chuva. E ainda sorriam, felizes da vida.

A gente achava que aquelas mocinhas que rasgavam a roupa do Cauby Peixoto, que pulavam no pescoço do Roberto Carlos, que arrancavam os cabelos do Wanderley Cardoso, Erasmo Carlos (quando ele tinha) e outros astros do nosso tempo de jovens, deviam estar loucas. E esses fãs do Rolling Stones e do U2, então?

Já imaginaram se John Lennon ainda estivesse vivo e os Beatles existissem? Eles teriam mais ou menos a mesma idade dos Rolling Stones e talvez fizessem uma excursão pelo Mundo, nos seus estertores, como Mick Jagger e seus velhinhos estão fazendo agora. Tenho certeza que o sucesso seria ainda maior, porque eles atingiram uma faixa muito grande de público, na qual me incluo, embora sem muito fanatismo.

Peçam para qualquer um daquele tempo citar 3 ou 4 títulos de músicas dos Beatles. Vão ter a resposta na ponta da língua. Quanto ao Rolling Stones vi muita gente sendo entrevistada pelas TVs, na saída do show, e ninguém soube dizer o nome de uma música apenas. “Da qual gostou?”, perguntava o repórter. “Gostei de todas”, era a resposta mais comum.

Da U2 não falo, porque essa banda é de uma época mais recente, que eu também vivi, mas não prestei atenção. Dei uma olhada nos dois shows e notei uma diferença enorme entre ela e os Rolling Stones. Enquanto a U2 parecia mais comportada, os Rolling Stones agitaram a massa, num desfile de rugas e pés-de-galinha que jamais se viu.

Pelo menos nesse aspecto eles são imbatíveis.

"Croniquetas" - 2006