POLÍTICA SALTENSE
O relacionamento às vezes tumultuado
dos jornais locais com os governantes
(Parte 2)
Os governantes com os quais “Taperá” conviveu
Em seus quase 55 anos de existência, pois surgiu em 21 de abril de 1964, o Jornal Taperá foi considerado injustamente muitas vezes como inimigo ou como “puxa-saco” dos governantes saltenses, em virtude da interpretação equivocada de certos leitores. No entanto, sua direção sempre procurou manter uma imparcialidade que é reconhecida pela grande maioria dos seus leitores, o que contribuiu para a longa existência do órgão de imprensa e a credibilidade por ele adquirida.
Quando o Taperá começou a circular, ainda como Revista, a partir de 21 de abril de 1964, era prefeito de Salto o professor Joseano Costa Pinto (1964 a 1968). O jornal mantinha com ele uma convivência respeitável, reconhecendo as virtudes do seu governo, mas fazendo críticas – algumas bastante pesadas – quando entendia que as medidas tomadas não eram favoráveis à população. Apesar de se rotular como revista, eram tratados em suas páginas assuntos políticos, comentando atitudes tomadas ou que deixaram de ser aplicada. Nesse período, criticou, dentre outras coisas, a compra de um “luxuoso” Aero Willys pelo prefeito; chamou-o em manchete de “o prefeito mais tranquilo que Salto já teve”, afirmando que a inépcia tomava conta da sua administração; que, para Joseano, “ser prefeito é dormir em berço esplêndido (...) e apreciar o sofrimento de um povo humilde, mas ordeiro e trabalhador”. Diante dessas críticas, Joseano praticamente rompeu relações com a revista, entendendo que ela fazia o jogo dos oposicionistas.
Os primeiros 4 anos de Joseano foram, realmente, muito ruins, mas no quinto ano (seu mandato foi prorrogado) ele se redimiu e realizou importantes obras, o que levou a revista a mudar de atitude, elogiando-o por diversas vezes.
2º mandato – O segundo prefeito com o qual o Taperá conviveu foi Jesuíno Ruy (1969 a 1973), com o qual foram mantidas boas relações no primeiro ano de mandato. Passaram a ser publicados, porém, artigos de colaboradores, principalmente do deputado Archimedes Lammoglia (sob pseudônimo), que causavam a revolta de Jesuíno, o qual descarregava sua insatisfação quando se encontrava com um dos diretores do jornal. A atitude do prefeito mudava às quartas-feiras, quando recebia os representantes do Taperá e de “O Trabalhador” (eu e Ettore Liberalesso, respectivamente), quando ele estava mais calmo e acessível. Pode-se resumir dizendo que as relações entre as partes foram tumultuadas.
Desentendimento – O prefeito seguinte, Josias Costa Pinto (1974 a 1977), irmão de Joseano, era amigo dos diretores do jornal, o que não impediu que houvesse um desentendimento entre as partes. Numa das críticas que Taperá fez a ele, ao comentá-las num dos encontros realizados às quartas-feiras com a imprensa local, Josias afirmou que tanto o Taperá como “O Trabalhador” não estavam agindo de forma correta e não mereciam sua confiança. “O Trabalhador” não teve nenhuma reação, mas o Taperá entendeu que a forma como Josias se manifestou merecia uma resposta à altura. Por minha decisão, o jornal anunciou que deixaria de publicar o nome do prefeito até que ele pedisse desculpas pelas suas declarações contra a imprensa local, especialmente o Taperá. Isso ocorreu durante alguns meses até que um dia, em virtude da aproximação das eleições municipais, o chefe de Gabinete de Josias, Fernando de Noronha, levou até a redação um ofício de Josias se desculpando pela forma como se manifestou. Publicamos o texto do ofício e paralisamos a “punição” a ele aplicada. Foi uma forma de nos impormos e mostrar nossa independência.
Volta de Jesuíno – Jesuíno Ruy voltou à Prefeitura em 1978 (até 1982) e com ele tivemos o mesmo tipo de relacionamento ocorrido em seu primeiro mandato: as críticas costumeiras e a publicação de artigos assinados em sua maioria por “G. Mattos”, pseudônimo de Archimedes Lammoglia, que o deixavam possesso.
1º governo de Pilzio – Começou mal nosso relacionamento com Pilzio Nunciatto Di Lelli (1983-1988), pois na primeira entrevista por ele concedida à imprensa local, numa quarta-feira, ele reclamou do fato de termos publicado charge na coluna do Boca-de-Siri. Nela, o vereador Alcides Victorino de Almeida, funcionário da Prefeitura, que havia sido punido pelo prefeito Jesuíno por ter-lhe feito críticas na Câmara, aparecia numa sala da Prefeitura assistindo televisão e lendo jornal. Pilzio reclamava, em altos brados, que Alcides não estava mais na sala, que o havia retirado de lá e por isso a matéria era mentirosa. No entanto, antes de ir até o gabinete de Pilzio, eu passei pela sala para conversar com Alcides e ele lá se encontrava (assistindo TV e lendo jornal). Retruquei, então, que Pilzio não tinha conhecimento real do fato e houve uma discussão que só foi paralisada quando seu chefe de Gabinete informou que diretores da Eucatex o esperavam para cumprimentá-lo, na sala do lado. O chefe de Gabinete, então, veio em minha direção, dizendo que eu deveria me adaptar ao novo governo e minha resposta foi que quem deveria se adaptar era o novo governo ao jornal Taperá. Com isso cortei qualquer possibilidade de pressão futura.
Governo Coltro – No governo de Eugênio Coltro (1989-1992) a convivência foi mais tranquila. Quando o Taperá fazia-lhe críticas, ele procurava ignorar, dizendo que não lia os jornais locais, mas de vez em quando, inadvertidamente, citava alguma publicação que tínhamos feito e perdia o jeito, reconhecendo que naquele final de semana “deu uma espiadinha no jornal”. Coltro foi o único prefeito que, ao final do seu mandato, esteve na redação do Taperá, agradecendo a divulgação e o apoio que demos à sua administração, deixando de levar em conta as críticas que recebeu.
Taperá culpado – João Guido Conti, que substituíra Coltro (1997 a 2000), procurou agir da mesma forma que seu antecessor, parecendo não dar muita importância quando era criticado, mas após ter deixado o cargo, não tendo sucesso nas eleições seguintes, jamais deixou de culpar o jornal Taperá pelos seus fracassos eleitorais. Foram feitas muitas críticas à sua administração (que apresentou aspectos positivos, como a solução provisória da falta d’água, elevação do município à estância e atração de cursos superiores), mas se ele tivesse sido mais atuante e mais convincente em seu governo, o resultado teria sido outro.
Revolta de Pilzio – Em seu segundo mandato como prefeito (2001 a 2004) Pilzio N. Di Lelli mostrava-se sempre cordato com a imprensa, mas às vezes reclamava das críticas que lhe eram feitas. Deve ter guardado muitas mágoas, pois na eleição municipal de 2004 fez o possível para prejudicar o Taperá, através do seu filho, que era seu secretário de Cultura, ingressando na Justiça contra o jornal, pedindo a aplicação de pesadas multas pelo que imaginasse fossem ilegalidades por nós cometidas, o que não se confirmou.
Governos de Geraldo – Geraldo Garcia esteve à frente da Prefeitura em dois mandatos (2005 a 2008 e 2009 a 2012). Nesses oito anos não houve grandes desentendimentos com os jornais locais, tendo aceitado sem reações, assim como alguns dos seus antecessores, as críticas que lhe eram feitas. Houve apenas um fato em que ele demonstrou sua insatisfação com o Taperá, ou mais especificamente contra este editor. Foi por ocasião da greve dos servidores municipais, por melhores salários, quando os grevistas estiveram na redação do jornal solicitando apoio para suas reivindicações. Eles tinham dificuldade para manter um diálogo com o prefeito e foi-lhes dito que em virtude do nosso bom relacionamento com o prefeito, poderíamos agendar uma reunião com uma comissão de grevistas, o que imediatamente fizemos. Geraldo considerou que nos colocamos a favor dos servidores e até hoje não se convenceu que nossa atuação foi apenas para colaborar na solução do problema que se criou.
Reação de Juvenil – Assim como aconteceu com diversos outros prefeitos, Taperá manteve um bom relacionamento com o governo de Juvenil Cirelli (2013 a 2016), nos primeiros tempos, discordando de algumas atitudes tomadas, mas nem por isso sofrendo represálias. No entanto, no último ano de governo houve uma mudança no comportamento por motivos políticos da administração para com o jornal, que foi prejudicado no que se refere à publicação dos atos oficiais. Estes foram concedidos a um jornal ituano que tinha circulação mínima em Salto, mas que possuía ligações com a Prefeitura. Posteriormente os atos passaram a ser publicados num jornal da capital (“Gazeta de São Paulo”), que praticamente não tinha circulação em Salto, tudo isso com o objetivo de prejudicar o Taperá, que sentiu financeiramente a falta de publicações da municipalidade. Foram realizadas licitações para que as publicações pudessem ser feitas, mas nelas não constava que haveria necessidade de uma tiragem razoável, além de ter sido permitida a participação de órgãos de imprensa de outros municípios, com circulação precária em Salto. Mesmo prejudicado, o jornal manteve sua linha de conduta até o final do governo, não agindo em represália.
Volta de Geraldo – Geraldo Garcia voltou à Prefeitura em 2017 e até o final de 2018 (quando encerramos a publicação de matérias deste livro), manteve o mesmo comportamento dos seus 8 anos anteriores, sendo criticado, mas não reagindo negativamente como aconteceu com alguns dos seus antecessores. No entanto, ocorreu um caso de grande repercussão, no qual ele não se portou devidamente. Isso se deu no final do ano de 2017, quando ele baixou um decreto que dentre outras coisas aumentava o valor da cobrança do estacionamento na Zona Azul, passando de 1 real para 2 reais a meia hora e de 2 reais para 4 reais por 1 hora. Criticamos o aumento excessivo e ele reagiu dizendo que não havia decretado reajuste nenhum. Além disso taxou de “fake news” (notícia falsa) a notícia divulgada pelo Taperá. Provamos que ele aumentou os valores, sim, e ele acabou tendo que aceitar que realmente constava do seu decreto o aumento. Mas não pediu desculpas pelo erro.
Outro acontecimento verificado na atual administração de Geraldo foi a promulgação da lei que tirou dos órgãos de imprensa a publicação dos atos oficiais, que passaram a ser divulgados na internet. Com isso jornais como o Taperá deixaram de ter uma receita importante, mas houve o reconhecimento, até mesmo de nossa parte, de que, apesar de as publicações na internet não chegarem a grande parte da população, essa providência um dia seria mesmo adotada, por Geraldo ou por qualquer outro que estivesse à frente do Executivo. Mas, como lhe dissemos pessoalmente um dia, ele vai ficar na história como o prefeito que oficializou a retirada dos atos oficiais das páginas dos jornais impressos.