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REPETECO

Show de memória


Quando a gente atinge uma certa idade, nossa máquina pensante começa a falhar e surgem os tais lapsos de memória. Alguns têm facilidade de lembrar fatos ocorridos há muitos anos, mas se embananam com coisas mais simples, como números de telefones, por exemplo. Ah, os números, eles são terríveis para a memória! Mas algumas pessoas têm facilidade em guardá-los, utilizando métodos bastante curiosos, que a maioria não tem disposição nenhuma para assimilar.

Já vimos casos surpreendentes de prodígios de memória. Um deles aconteceu em Buenos Aires, numa viagem que fizemos com familiares e parentes. Estávamos em doze e fomos almoçar num restaurante de Puerto Madero, um antigo porto transformado em região turística, com muitos restaurantes, casas noturnas, etc. Sentamo-nos à mesa e veio o garçom. Mãos para trás, curvou-se respeitosamente e perguntou quais as bebidas e os pratos que desejávamos. Esperamos que pegasse caneta e o bloquinho para anotar os pedidos, mas ele continuava com as mãos para trás.

Inicialmente pedimos as bebidas: vinho, cerveja, refrigerantes, sucos, água com e sem gás, com pouco ou muito gelo... e ele com as mãos para trás. Perguntamos se não iria anotar. “No”, respondeu secamente, pedindo que escolhêssemos os pratos no cardápio. Filé para um, frango para outro, peixe, salada, até que o pedido fosse completado. E ele com as mãos para trás, apenas fazendo sinais de “si”, “si”, com a cabeça.

Quando o garçom se retirou, comentamos que ele deveria ser um gênio, ou iria fazer uma trapalhada tremenda. Pouco depois ele apareceu com as bebidas, colocando-as nos lugares certos, de acordo com os pedidos feitos. O mesmo fez a seguir com os pratos, não fazendo nenhuma pergunta e não errando nenhum.

Na hora de pagar a conta, perguntamos-lhe se nela não estava incluída o show de memória. Respondeu que não. Bastava-lhe a economia da tinta da caneta e do papel...

“Croniquetas” - 2006

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