CRONICANDO

O fim do Novo Mundo

Não se assustem, não é nenhuma notícia alarmante. É sobre um hotel do Rio, o Novo Mundo, que fechou suas portas na semana passada, depois de 69 anos de existência. Surgiu na Copa do Mundo de 1950 e hospedou nesse tempo muita gente famosa, como presidentes da República (o Palácio do Catete, atual Museu da República, ficava ao lado), escritores, artistas, etc. Até eu, no final da década de 1960, um rapaz que dava os primeiros passos com uma revista semanal numa cidadezinha do interior de São Paulo, ali fui passar minha lua de mel com minha esposa Zuleima.

A Praia do Flamengo, onde o hotel se situava, era muito mais tranquila que hoje e podia-se andar pela região à noite, ir até a Cinelândia assistir a um filme (voltando de madrugada), passando pela então tranquila Praça Paris; ir aos Arcos da Lapa, também próximo e a outros locais. Mas não precisaria ir muito longe para passar bons momentos: bem em frente ao hotel havia vários campinhos, com disputas de futebol acirradas, times uniformizados, brigas que chegavam à pista onde os veículos passavam, enfim diversão quase as 24 horas dos sábados e domingos, quando os campeonatos varavam a noite.

Quando chegamos ao hotel, num sábado à noite, verificamos que ali se hospedava naquele final de semana a equipe do Palmeiras, de São Paulo, com Djalma Santos, Dudu, Ademir da Guia, César, Tupanzinho, Galhardo, etc., além do técnico Aimoré Moreira, pessoas com quem convivemos alguns momentos no restaurante e nos elevadores, mas nos faltou coragem em pedir para tirar fotos ao lado deles. Por falar em fotos, depois de quase uma semana no Rio, a máquina fotográfica do Taperá, que havíamos levado, foi roubada na deserta Praia de Copacabana e tivemos que ir buscar uma emprestada na casa de parentes no bairro de Campo Grande, que não havíamos convidado para nosso casamento. Fomos até lá na pura cara de pau.

Dez anos depois, em nosso aniversário de casamento, voltamos ao Rio e ao mesmo Hotel Novo Mundo, com nossos dois filhos, Cynara e Valtinho, com os quais fomos conhecer os pontos turísticos da cidade. Antes tínhamos levado minha mãe Ignês e minha sogra Lourdes, que pela primeira vez se hospedaram num hotel, numa viagem que lembravam sempre com saudade. Nessa altura já tinha sido colocada no hall de entrada uma placa informando que o Santos F.C. esteve hospedado no hotel no dia em que Pelé marcou seu milésimo gol, no Vasco.

O Hotel Novo Mundo nos proporcionou muitos momentos de prazer, assim como a nossos familiares e às muitas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, num Rio de Janeiro muito diferente do que é hoje. Época em que se tinha satisfação em conhecer suas belezas naturais e percorrer suas ruas e praias, sem a preocupação de ser roubado ou ser alvo de uma bala perdida.