REPETECO
Um certo José Maria
Outro dia estava na fila de um supermercado da região noroeste da cidade, quando ouvi dois clientes conversando sobre o nome da avenida:
- Esse tal de José Maria Marques deve ter sido um grande figurão, um político da pesada...
- Pra ter nome numa avenida dessa, só pode ter sido prefeito, deputado ou senador.
Se ouvisse essa conversa, o tal de José Maria iria rir muito e, na sua modéstia, diria que nunca fora político, sequer vereador, embora, se quisesse, poderia sê-lo, pois era uma figura muito respeitada e querida na cidade. Seu nome completo era José Maria Marques de Oliveira, mas todos o conheciam por Zequinha Marques.
Lembro-me, em minha infância e juventude, ter ouvido falar muito dele, pois era músico e participava dos eventos que ocorriam na cidade e principalmente na matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, onde tocava violino e dirigia o coro. Como adulto, fui saber exatamente quem era Zequinha Marques e pude até conviver com ele em alguns momentos da minha vida, pois trabalhava no Fórum e ele era o juiz de paz que realizava casamentos no Cartório do Registro Civil. Estava sempre elegantemente vestido com terno completo e de seu colete saía uma corrente até o bolso, no qual levava um relógio que sempre consultava. Brincalhão, comunicava-se com todos, irradiando simpatia.
Soube mais tarde que ele convivera com as figuras mais representativas da cidade, apesar da barreira da pele escura, numa época de muito preconceito. Participava não só de retretas e apresentações de um conjunto de músicos, mas também de jantares regados a bom vinho, geralmente na Chácara Vendramini, onde hoje existe a Rodoviária. Além de músico, foi autor de composições sacras, inclusive 4 músicas, uma das quais a célebre “Regina Coelli”, cujo conhecidíssimo trecho era cantado nas procissões do Encontro, realizadas na Semana Santa. Como aluno do Coleginho e integrante da Cruzada Eucarística, cantei muitas vezes na esquina das ruas 9 de Julho e 7 de Setembro (atual Monsenhor Couto) o “Aleluia, Aleluiá, Aleluuuuuilá, Aleluuuuuilá”.
Após seu falecimento, em fevereiro de 1982, fui procurado pela Aurora, uma de suas filhas, que me presenteou com uma foto colorida, colada num papelão, que ele levava em sua carteira, onde ele aparecia em primeiro plano e eu mais ao fundo, tirada por ocasião de uma homenagem que a Câmara de Salto lhe prestou, com a inscrição: “Aqui estou eu, ao lado do diretor do jornal Taperá”. Fiquei muito honrado por aparecer numa foto com ele e levada em seu bolso durante parte de sua fecunda existência.
Como se vê, neste breve relato, José Maria foi mesmo um “figurão”, apesar de não ter sido político. Foi honra, glória e orgulho de nós saltenses, merecedor incontestável de todas as nossas homenagens, transcendendo em muito a de uma avenida da cidade.
Sabem agora os dois clientes do supermercado e todos os demais quem é esse tal de José Maria?
(Livro “Vagueando” – 2010)