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REPETECO

O ritual da pizza


Nos dias atuais, o fim de semana do saltense pode começar ou terminar em pizza. Não é preciso nem trocar o “short” por uma calça ou bermuda e nem colocar camiseta ou sapato. Basta discar o número de uma das várias pizzarias da cidade que fazem entrega e alguns minutos depois o motoqueiro estará batendo em nossa porta com a mercadoria.

Mas nem sempre foi assim: há alguns anos o ritual era completamente diferente. Como hoje, o sábado e o domingo eram os dias preferidos para se comer uma pizza numa das pizzarias da cidade, mas as opções não eram muitas e não havia o serviço de delivery. A princípio só o Expedito Tereza e o Walter Mazetto, os dois “pizzaiolos” pioneiros de Salto, ofereciam a iguaria. Depois vieram o Scallet, o Sbrissa e surgiu até um serviço disk-pizza, que durante vários anos foi oferecido pelo sargento Lino e seus familiares.

O pioneirismo do Expedito e do Mazetto precisa ser destacado, porque eles seguiram uma tendência que deve ter começado em São Paulo, lá pelos lados do Bexiga, que até hoje conta com as melhores pizzarias da capital. O que nos intriga é que a mania de comer pizza não veio para o Brasil com os primeiros imigrantes, no final do século IXX e início do XX. Ao contrário da macarronada, do nhoque e da lasanha, a pizza nunca foi um prato frequente na mesa dos “oriundi” e de seus descendentes. Quem, como nós, fez parte dessas famílias, sabe muito bem disso.

Mais intensamente a partir da década de 60, no entanto, comer pizza virou moda ou mania. E os fins de semana passaram a ser mais agradáveis, pois ir ao Bar do Expedito ou do Mazetto comer uma pizza com a massa torradinha, acompanhada de um chopinho tirado com capricho, era programa obrigatório para os casais de namorados e para muitas famílias, embora nem todos tivessem os recursos necessários para “marcar ponto” todo final de semana. Hoje comer pizza não é um privilégio dos abonados, pois paga-se 7 ou 8 reais em alguns locais mais simples e quem quiser uma semi-pronta pode gastar menos de 4 reais (Nota do autor: esses eram os preços daquela época – 2002 -, hoje paga-se no mínimo 20 reais por uma pizza).

E como era antes do “reinado das pizzas?” Onde iam os casais de namorados e famílias antes da década de 60 em nossa cidade? Era chique, a partir da década de 50, tomar uma caneca de chope no Bar do Boni, acompanhada de um legítimo gorgonzola importado, inclusive com aqueles “bichinhos” espertos. Ou então comer uma bisteca acebolada ou a cavalo, no Bar do Pierim (esquina das ruas Itapiru e Dr. Barros Jr.). Tanto o gorgonzola como a bisteca, no entanto, não eram tanto democratizados como a pizza é hoje, uma vez que o dinheiro era curto e o costume não tão arraigado. Agora, com a pizza ganhando espaço, dá até pra bolar uns versos:

Hoje consome pizza o empresário, o trabalhador e o estudante.

As variedades? É só escolher: calabresa, mussarela ou à portuguesa.

Massa grossa, massa fina, com chope, cerveja ou refrigerante.

Abrindo ou fechando o final de semana, com muito apetite.

Quem for adepto desse ritual que se habilite.

(“Crônicas da Cidade” – 2002)

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