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REPETECO

Salto com fama de “cachaceira”


Recente pesquisa comprovou que Salto é uma das cidades com maior consumo per capita de cachaça, uma verdadeira cidade “cachaceira”. Talvez pela aproximação com Cabreúva, onde se fabrica as melhores aguardentes do Estado e quiçá do Brasil, aqui a turma não deixa de dar sua “bicadinha”, antes, durante e até após as refeições. Isso não quer dizer que a nossa seja uma terra de bebuns, mas sim um local onde existem pessoas de bom gosto e fino paladar.

É isso mesmo: fino paladar, porque nos últimos tempos a cachaça está se elitizando e até ganhando espaço considerável entre os anúncios veiculados no horário nobre da televisão. Vocês têm visto aquele comercial no qual o casal entra num restaurante de luxo e pede “Velho Barreiro” e que termina dizendo que “até a garrafa é coisa fina”? Ou aquele outro, feito com muito humor sobre a “Pirassununga 51”, número que faz todo mundo perguntar: “Sabe que você me deu uma boa ideia?”.

Seria essa uma forma de incentivar o vício ou uma maneira de se mostrar que é uma virtude beber com moderação? Sei lá. O certo é que, apesar da publicidade na TV os saltenses continuam preferindo sua cachacinha cabreuvana, talvez porque através dos anos foi-se acostumando com seu sabor característico. Trata-se de um raro exemplo em que os apelos e as campanhas promocionais não conseguem sensibilizar o consumidor, que continua tomando sua “Rainha da Praia”, “Cristal”, “Jundiuvira”, “Rialto” e tantas outras marcas de aguardentes regionais.

No dia, porém, que o consumidor não suportar mais o assédio da publicidade, essa fidelidade vai acabar e a “Rainha da Praia” vai perder a coroa; a “Cristal” se transformará em vidro fosco; a “Jundiuvira” não saberá mais como se virar e a “Rialto” não terá forças sequer para rir, nem mesmo para dar um sorrisinho.

(Publicada em agosto de 1982

e no livro “Boca-de-Siri” em 2005)


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