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REPETECO

Quando havia calor humano nos bancos

Nas raras vezes que somos obrigados a ir até uma agência bancária instalada na cidade, sentimos uma saudade imensa da Salto de 40 ou 50 anos atrás. Além das longas filas, a maioria das pessoas que ocupam as mesas da gerência ou as de atendimento ao público nos são completamente desconhecidas. Se não tivermos que falar com elas (o que às vezes demora um tempão), teremos que “falar” com as máquinas, o que é muito pior. Essas máquinas, que aceitam depósitos e pagamentos e que nos fornecem os estratos e dinheiro que necessitamos, são frias e impessoais. Se não digitarmos direitinho os números elas simplesmente nos ignoram.

Antigamente a gente encontrava calor humano nas agências bancárias. Se tínhamos um bom saldo, éramos paparicados pelos gerentes e demais funcionários, pois eles sabiam sobre nosso movimento bancário. Se não tínhamos, mesmo assim eles nos atendiam com um sorriso nos lábios e diziam “não” aos empréstimos de um jeito que nos comovia.

Conservando outro dia com o ex-banqueiro Nelson Mosca, lembramo-nos desse tempo áureo das relações bancos-clientes. É bom recordar que os primeiros bancos que se instalaram em Salto foram a Caixa Econômica Estadual, ainda na década de 40, seguida do Banco Mercantil de São Paulo e Banco Comércio e Indústria de São Paulo, no final dessa mesma década (nenhum deles existe mais na cidade). Os dois últimos funcionavam na Rua Monsenhor Couto, no quarteirão entre a Rua 9 de Julho e 23 de Maio. Na década de 50 começou a funcionar o Banco Bandeirantes, na esquina dessas duas ruas e em meados da década de 60 surgiu o Banco de Crédito Nacional, com sua agência na Rua José Weissohn, esquina com a 23 de Maio, vindo depois a Caixa Econômica Federal, o Itaú, o Bradesco, Unibanco, Real, etc.

Quando existiam poucos bancos em Salto, parecia estarmos “em casa”, pois os funcionários eram quase todos saltenses e permaneciam por longos anos na função e só raramente eram transferidos. Muitos deles se aposentaram, mas alguns tiveram a má sorte de atingir os tempos da informatização, no qual o ser humano tem pouco valor, e foram dispensados depois de muitos anos de bons serviços e de dedicação. Mas, permaneceu a lembrança dos casos alegres e também dos tristes. Na conversa com Nelson ele lembrou alguns, como o do primeiro assalto a banco ocorrido em Salto, em abril de 1970, no qual participou como vítima, já que era o caixa do Comércio e Indústria de S. Paulo.

Outro aconteceu na década de 50, e demonstra os rigores dos costumes da época, quando os funcionários trabalhavam em trajes sociais e os bancos funcionavam aos sábados, até meio-dia. Nesses dias os contínuos eram convocados para voltar à agência no período da tarde, a fim de fazer a limpeza das dependências. Antônio Colaço e Ângelo Matiuzzi, o “Bela”, ainda jovens, eram os contínuos do Banco Mercantil e, num sábado, ao chegar à agência, encontraram-se com Milton Mazza, que saía atrasado. O contador não os deixou entrar, pedindo que primeiro fossem para casa se vestir “decentemente”: mesmo fora do horário de expediente e mesmo para fazer limpeza, teriam que usar terno e gravata para entrar na agência...


(Livro “Crônicas da Cidade” – 2002)

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