REPETECO
Festas juninas no Quintalão
Hoje o número de festas juninas que se realizam na cidade é muito grande. Temos até as “julinas”, que eram inexistentes no passado e talvez até inaceitáveis, as quais foram criadas para prolongar e para não concorrer com as que se realizam em junho.
Antigamente não era assim. Tínhamos poucas festas desse tipo, mas que marcaram época. As mais modestas aconteciam na zona rural, próximas à cidade e nelas se vivia um clima genuinamente caipira, com reza do terço, quentão, pipoca, amendoim, batata doce assada na fogueira e um sanfoneiro fazendo o pessoal dançar no chão batido, ao lado da casa.
Na cidade lembramo-nos de duas festas juninas grandiosas: a que se realizava no Largo São João e a de um dos quintalões da Brasital (entre a 9 de Julho e 23 de Maio e Avenida D. Pedro II e José Revel). A primeira acontecia naquela área às margens do Rio Jundiaí, que na época era um terreno amplo, ainda sem iluminação, árvores e bancos, como os que existem hoje. A última festa nesse local teve uma grande briga e isso deve ter contribuído para seu fim.
A “Festa do Quintalão”, como era conhecida, durou mais tempo e começou com simplicidade, promovida por um grupo de garotos, segundo o relato feito certa vez pelo Osvaldo Stoppa (Vadinho) ao Taperá. Ele citou seu irmão Toninho, Nelson e João Guido, Titéi, os irmãos Andrade, Celestino e Ju Dalla Vecchia, dentre outros, como idealizadores. Alguns adultos assumiram a festa na década de 1960, dentre eles o “Zé Corrigive” (José Camargo, que ganhou o apelido por ser “incorrigível”), “Tonhão” (Antonio Favarelli) e outros. Essa festa era um tanto fechada: só se podia entrar através de uma das residências do quarteirão, visando impedir que maus elementos participassem e criassem problemas. A família que deixasse entrar alguém era a responsável pela conduta do visitante, o que fazia com que tudo transcorresse num clima de muito respeito e amizade.
Nos primeiros anos a festa acontecia no chão batido, ao lado dos tanques onde as mulheres lavavam suas roupas e dos fornos onde se fabricava os pães, até que uma quadra de esportes foi construída para que a quadrilha pudesse se apresentar e as pessoas pudessem dançar. A animação ficava a cargo de um conjunto formado, dentre outros, pelo Sérgio de Carvalho, com Crécio na sanfona, Quenco, Dindo e outros músicos. Havia quentão, amendoim, pipoca, pinhão e outras comidas típicas, que eram vendidas e a renda destinada a pagar o conjunto musical e as despesas com fogos de artifício, bandeirolas, etc.
Um dia essa festa simplória, porém animada, acabou, mas os que sobreviveram lembram saudosos dos momentos felizes que passaram, numa convivência entre vizinhos que não é muito comum nos dias atuais.
(Livro “Crônicas da Cidade” - 2002)