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REPETECO

O milagreiro “Homem das Medalhas”


26 de outubro de 1930. Chegava em Salto, naquele dia, um andarilho sem destino. Não era um mendigo ou “ligeira”, como eram denominadas as pessoas sujas, mal vestidas, geralmente barbudas, que perambulavam pelas ruas, dormindo em qualquer lugar. Esse tinha nome, procedência e motivo para percorrer o mundo.

Chamava-se, segundo o jornal O Trabalho, que circulava na época, José Cavalcante dos Reis e viajava desde 1908 para cumprir uma promessa religiosa. Natural do Estado de Alagoas, garantia que iria viajar enquanto vivesse, mantendo-se com o produto de esmolas. Também socorria os indigentes, o que também fazia parte de sua promessa.

Ele trajava uma farda branca e sobraçava um livro de capa preta. No seu peito um verdadeiro mostruário de medalhas, que chamava a atenção e levaram o jornal a chamá-lo de “Homem das Medalhas”. Chegou à redação do jornal, na Rua 7 de Setembro (atual Monsenhor Couto) com passos firmes, despertando a curiosidade de todos, que saíam à janela para ver aquele tipo estranho, verdadeira novidade na cidadezinha.

José Cavalcante dos Reis revelou sua história: padecera de um reumatismo agudo com paralisia total, o que o levou a invocar as graças de Nossa Senhora das Dores e do Sagrado Coração de Jesus, prometendo que se ficasse livre da moléstia iria andar ininterruptamente, sem destino, até o fim de sua vida. O milagre operou-se e em dezembro de 1908 ele iniciou a caminhada sem fim.

Manuseando o livro de capa preta que levava, verificou-se que ele tinha um termo de abertura e outro de encerramento, feito pelo juiz de Direito de Petrolina, onde havia o registro de uma certidão. Ela garantia que no dia 30 de dezembro de 1908, às 18 horas, um andarilho solicitou a abertura da matriz para fazer preces à santa de sua devoção, Nossa Sra. das Dores, para que ela mandasse chuva, o que não acontecia há tempos. À 1 hora da madrugada, segundo a certidão, a chuva caiu torrencialmente, acompanhada de fortes trovoadas, o que prosseguiu até o dia seguinte. Nessa mesma ocasião ele rezou pela recuperação do vigário daquela cidade, que se achava em seu leito de morte, há 6 dias, garantindo que ele iria rezar missa alguns dias depois, o que acabou acontecendo.

Depois de breve contato, o andarilho, chamado de “Homem das Medalhas” pelo jornal, partiu a pé, sem destino, assim como chegou. Nunca mais se teve notícias dele.

(Livro “Momentos” – 2003)

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