REPETECO
O refresquinho “que eu faço”
Conversando um dia com o ex-prefeito Josias Costa Pinto ele nos contou que em Salto havia um bar que era o reduto das pessoas chamadas de “respeitáveis” da cidade. Tratava-se de um estabelecimento que chegamos a conhecer, ainda jovens, como “Bar do Olavo”, pois não pegamos a fase em que ele era de propriedade do velho José de Arruda Mello, pai do novo proprietário, época em que – segundo Josias – recebia a fina flor da soeiedade local. Localizava-se na esquina da 9 de Julho com a Dr. Barros Jr., ao lado do prédio onde hoje funciona a Casas Pernambucanas.
Por não termos alcançado o período anterior, só podemos falar do tempo em que o bar pertencia a Olavo de Arruda Mello, um senhor simpático, que procurava se relacionar bem com a freguesia, que continuou seleta por muito tempo, após ele passar a dirigir o estabelecimento. Com a ajuda dos filhos Lázaro, Pio e “Lavito”, ele oferecia uma variedade muito grande de produtos, que iam do picolé ao sanduíche, das bebidas finas ao “refresquinho”. Este último marcou época. A gente chegava com sede, pedia uma Coca-Cola ou um guaraná e lá vinha seu Olavo fazendo sinal que não com os dedos: “Nã, nã, nã, nã, não! Você vai tomar o refresquinho que EU faço!”.
Tirava da geladeira a garrafinha sem tampa, com um líquido colorido, pegava um copo, colocava em cima do balcão e ordenava: “Experimente!”. A gente tomava e, gostasse ou não (quase sempre gostávamos), tínhamos que dar nossa opinião, enquanto ele aguardava: “É bom, gostoso”, o que o deixava muito satisfeito.
Não sei se foi a idade do seu Olavo ou o desinteresse dos seus filhos em tocar o negócio, mas o certo é que um dia aquele bar, que foi tão famoso e respeitado na cidade, fechou suas portas. Tempos depois o prédio foi reformado e surgiu ali um restaurante chamado Mini Churra. Era mais moderno e oferecia um melhor visual, mas quem tomou aquele “refresquinho” que seu Olavo fazia, jamais vai se esquecer da experiência inusitada que teve num bar da cidade.
(“Crônicas da Cidade” – 2002)