REPETECO
O “Cineminha da Igreja”
O “Cineminha da Igreja”, como era conhecido nas décadas de 1950 e 1960, ou Cine São Francisco, como oficialmente passou a ser chamado, deixou saudade. Lembramo-nos das sessões das segundas-feiras, quando o Salão Paroquial da matriz de Monte Serrat ficava lotado de crianças, para as quais eram exibidos filmes de Carlitos, O Gordo e o Magro, Tarzan, faroestes, etc. Recordamo-nos particularmente dos curta-metragens que eram constantemente exibidos, como aquele em que Carlitos fugia dos policiais, das trapalhadas de Stan Laurel e Oliver Hardy, das aventuras de um bando de garotos que faziam as maiores diabruras. As crianças acompanhavam os filmes com uma gritaria ensurdecedora, torcendo, batendo palmas e os pés no chão.
Antes da sessão começar, ou nos intervalos, os garotos mais afortunados ou aqueles que recebiam alguns trocados dos seus pais, iam até o pequeno bar que funcionava ao lado da porta de entrada do salão, para comprar balas, amendoim, paçoquinha, suspiro, doce de batata, maria-mole, etc., além de tomar uma “caçulinha” (Guaraná Antarctica em garrafa pequena) ou “sodinha”. Os meninos da época eram felizes naquele dia e sabiam, pois a satisfação de assistir às exibições no “cineminha” era algo indescritível. Contavam nos dedos os dias anteriores às segundas-feiras.
Destinado inicialmente à apresentação de filmes para os frequentadores do Catecismo e de outras promoções da igreja, o “Cineminha” um dia passou a disputar com o Cine Rui Barbosa e com o Verdi a preferência do público adulto, que naquela época ia muito ao cinema. Dependendo do filme a ser exibido, o Salão Paroquial ficava lotado, mas aos poucos, com o surgimento da televisão, a plateia foi ficando vazia, até que um dia o projecionista Ciro Cruchello se afastou a passou a cuidar do seu próprio cinema, o Cine Najá, que funcionava na Rua Barão do Rio Branco, quase esquina com a 9 de Julho.
Do “Cineminha da Igreja” não ficou só o prédio do Salão Paroquial, Ficou também a lembrança de uma Salto inocente, provinciana, pacata e bucólica, onde a alegria das sessões de cinema das segundas-feiras extravasava na gritaria e na bagunça dos pequenos habitantes, hoje pessoas maduras, mas que têm bem fresca na memória aquela época deliciosa de suas vidas.
(Livro “Crônicas da Cidade” – 2002)