REPETECO
Flúor “on the rocks”
Na década de 1980, quando o vereador Rubens Murilo Ceconello dizia na tribuna da Câmara Municipal que era necessário adicionar flúor na água servida à população, era alvo de muitas gozações por parte de companheiros. Ainda mais porque ele falava de exemplos de cidades onde isso fora feito e a incidência de cáries havia sido reduzida de forma sensível. Uma dessas cidades era Campinas, que naquela época não tinha uma fama muito boa. “Flúor na água? - perguntava um dos colegas de Ceconello no Legislativo – você está louco. E a nossa masculinidade, como é que fica?”.
Ceconello fazia, então, aquela cara de bebê chorão e procurava explicar que o flúor tinha propriedades especialíssimas e que a população só teria a ganhar se ele fosse adicionado à água. Não adiantava: os demais não queriam nem falar do assunto e a pregação era logo levada para o lado da gozação: “Com o flúor a água fica mais fresca e nós também...”.
Passados alguns anos, eis que nossa Prefeitura anuncia que a água servida à população estava sendo fluoretada, numa tentativa bastante válida de reduzir as cáries e as cáries e as doenças bucais. A maioria certamente recebeu a notícia com satisfação, mas não faltaram aqueles que, apesar das evidências, a encararam com um certo ceticismo: “Flúor na água? Huuuuum, eu estava mesmo notando que ela passou a ter um gosto esquisito”.
Outros irão procurar tirar proveitos comerciais da medida. Quando alguém, por exemplo, for tomar um drinque num bar poderá ser lhe oferecido “rabo de gaylor” (cinzano, cachaça e água fluoretada). Mas se o desmunhecamento for se generalizando, parem imediatamente com o flúor e passem a adicionar doses maciças de guaraná em pó na nossa água. Talvez dê para salvar alguns...
(Livro “10 Anos de Humor – Boca-de-Siri” – 2005)