QUEM FOI QUEM
Odilo Della Paschoa, jornalista, professor e defensor intransigente de sua cidade
Ele não era jornalista formado, mas pode ser considerado porque exerceu essa atividade durante vários anos. A maior parte de sua vida dedicou-se ao ensino, como professor em escolas locais, mas o que ele fez de bastante importante também foi defender sempre sua cidade, manifestando-se sempre que ela era atacada ou vilipendiada. Fui seu amigo desde que ingressei no jornal O Liberal, no final da década de 1950 e militei com ele nesse órgão de imprensa até o encerramento de suas atividades, no início de 1964, quando surgiu a Revista Taperá. Também participamos juntos da fundação de um outro jornal, A Tribuna, que teve vida efêmera (6 edições apenas).
Numa crônica que publiquei em 9 de junho de 2001, dias após seu falecimento, me referi a Odilo como uma pessoa “que não estava nem aí”. Dizia no início: “Quem o via andando pela cidade, seguido quase sempre por um cachorro vira-lata, mal vestido, sapatos rotos, despenteado, barba por fazer, não lhe dava um vintém. E ele estava pouco se ligando pra isso. Não era do tipo que se preocupava com sua aparência, de sua casa ou de outras coisas, pouco lhe importando o que os outros iriam pensar ou dizer. Como defini-lo? Ele tinha um pouco de anarquista, muito de relaxado, uma boa pitada de desligado e uma dose generosa de ‘nem aí’. E, no entanto, era uma pessoa culta, pois foi professor, formou-se em Direito (embora não exercesse) e exercitava suas ‘habilidades literárias’ escrevendo nos jornais locais’”. Na imprensa, aliás, ele fazia suas críticas e se rebelava sempre que era feita alguma coisa que poderia prejudicar sua cidade, a quem defendia sempre.
Em O Liberal ele fez parte da equipe que contava com Rafael Hyppolito, Edmur Ignácio Sala, Carlos Laurenciano, Uziel Carola, Desdêmona Ignácio e eu, os quais mantiveram o jornal por alguns anos, criando muitas polêmicas, a maioria delas de responsabilidade do Odilo, que arrumava encrencas quase toda semana, apesar de eu e Edmur fazermos uma “censura prévia” dos seus artigos. Às vezes “escapavam” alguns, como quando escreveu sobre “sodomia”, assunto mais ou menos proibido na época; quando polemizou com o padre Luiz, criando um desentendimento com O Trabalhador, sobre o tema Educação; quando fez pesadas críticas a uma entidade que mantinha uma farmácia e na ocasião em que chamou um barbeiro de “o maior mentiroso de Salto”, o qual prometeu matá-lo se ele não voltasse atrás. E ele não voltou. Com a saída de Raphael Hyppolito, Odilo assumiu a direção do jornal durante algum tempo.
Após o encerramento de O Liberal Odilo continuou escrevendo nos jornais locais, principalmente no Taperá, no qual era um dos mais constantes manifestantes da coluna da Secretária Eletrônica. Algumas de suas opiniões primavam pelo inusitado, como quando sugeriu que se invertesse o curso do Rio Tietê para acabar com a poluição; para também modificar o sentido dos desfiles que aconteciam na 9 de Julho, sugerindo que os desfilantes ficassem parados, enquanto os assistentes desceriam ou subiriam pelas calçadas, o que faria com que a apresentação fosse bem mais rápida; e quando propôs que o município voltasse a se chamar “Salto de Itu”, como era mais conhecido . Nas salas de aula ele também se impunha de uma forma pouca apropriada, pois era um defensor de punições mais severas para os alunos que não se comportassem direito, tendo sido acusado uma certa vez de dar algumas “reguadas” num dos seus alunos.
Ele exerceu também outras atividades em setores distintos da cidade. Fez parte, por exemplo, do Centro de Orientação e Cultura, juntamente com outros jovens, na década de 1950 e foi presidente da Liga Saltense de Futebol
Família e homenagem – Odilo foi casado e deixou dois filhos: Oscar e Carlos. Pouco tempo depois de falecer (o que aconteceu em 5 de junho de 1991), foi homenageado pela Prefeitura de Salto, que deu seu nome a um dos Cemus, o localizado ao lado da Escola Sagrada Família, na Avenida D. Pedro II, onde anteriormente funcionou o Ginásio Industrial.