REPETECO
Mais conhecido que nome de rua do centro
Jamais pensei em ter um amigo centenário. Desde o dia 20 de janeiro de 2008 passei a tê-lo. Era uma figura singular: bastante lúcido, tinha alguma dificuldade de se movimentar, mas isso não impede de andar dois ou três quarteirões ou que, depois de oferecer um almoço aos amigos saltenses, quando completou 100 anos, tire do bolso o talão de cheques e, em pé, preencha um deles para pagar a conta, sem precisar usar óculos.
Ele passou a residir em São Sebastião da Grama, depois de viver muitos anos na capital, num prédio de apartamentos ao lado do estádio do Palmeiras, onde acompanhava os jogos do seu time do coração (é tão fanático que no bolo do seu centenário tinha um distintivo do clube). Pretendia mudar-se para Salto, mas como sua esposa tinha casa montada “na Grama”, como chamam a cidade, por aquelas bandas, acabou indo para lá.
Na primeira vez que fui visitá-lo, em 2003, como não sabia onde ficava a casa cujo endereço ele me forneceu, fui até a praça principal e me dirigi a uma farmácia, onde os funcionários conhecem todas as ruas, numa cidade pequena como aquela. Perguntei a um deles onde ficava a Rua Antonio Rodrigues, onde ele morava, e não soube me responder. Perguntou a outras pessoas que se encontravam na farmácia, que disseram que não conheciam tal rua.
“Quem o senhor está procurando?”, perguntaram. Assim que respondi, tudo ficou esclarecido: “Ah, o senhor Ferrari? A casa dele fica a três quarteirões daqui, ao lado do supermercado”. Ou seja: embora não seja natural de lá, João Batista Ferrari, o Tita, era mais conhecido em São Sebastião da Grama do que nome de rua do centro da cidade.