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REPETECO

O nosso “Mazzaropi”


Salto, apesar de ter sido conhecido como centro industrial durante grande parte de sua existência, jamais deixou de cultuar a arte em suas mais diversas formas. A cidade já alcançou destaque na música clássica e popular, nas letras, nas artes plásticas, no cinema, no rádio, na televisão e em diversos outros setores da vida cultural do país. Tudo o que ela conseguiu em termos de divulgação deve às figuras que mais se sobressaíram em cada uma dessas atividades, como Anselmo Duarte, Gaó, Jota Silvestre, Flávio Pretti, Lubra, José Lopes e vários outros.

Um setor que sempre foi muito ativo na cidade, mas que infelizmente não revelou nenhum nome no cenário nacional foi o teatro. Há cerca de 150 anos, como conta Ettore Liberalesso em seu livro “Salto, História, Vida e Tradição”, tínhamos em nossa cidade até mesmo uma “Rua do Teatro”, o que demonstra que havia muito interesse da população por esse tipo de arte. Em 1917, por exemplo, contávamos com duas “companhias de teatro” e durante os anos seguintes sempre havia espetáculos apresentados por grupos locais.

Em todo esse período tivemos diversos atores e atrizes amadores que se destacavam, mas, para nós (e para muitos) um nome ficou gravado e acreditamos que ele represente o que de melhor tivemos no teatro como um todo e no teatro de comédia, em particular, em toda nossa existência. Referimo-nos a Ciro (Jaciro) Crucello, que foi nosso “Mazzaropi” e teria feito sucesso até mesmo no cinema, se tivesse tido chance e coragem de deixar a cidade, como fez um dia Anselmo Duarte.

Ciro não precisava representar para nos fazer rir. Uma simples conversa com ele era suficiente para darmos boas gargalhadas, pois, com seu jeitão caipira, que lembrava Mazzaropi, ele não precisava se esforçar para fazer rir. Imaginem então num palco, vestido de mulher ou como caipira e com os bons textos de comédias que os grupos teatrais da cidade apresentava. Aliás, como fazem outros bons comediantes, às vezes acrescentava alguns “cacos” às suas falas e não raramente deixava escapar um “p.q.p”, ou “f.da p.”, o que não era comum na época.

Monsenhor Couto, que lhe dava abrigo na Casa Paroquial em troca de alguns serviços (como exibir filmes no “cineminha da igreja”), as irmãs do padre e as beatas da paróquia o recriminavam, mas a maior parte das pessoas adorava. Comédia com Ciro Crucello no elenco era certeza de casa cheia e os grupos teatrais sabiam disso, tanto que programavam mais de um espetáculo quando apresentavam alguma peça no Teatro Verdi.

Hoje Ciro Crucello é um nome que a nova geração teatral e o próprio público saltense, em sua maioria, não conhece. Quem o viu em ação, porém, certamente vai se recordar daquela figura espigada e desengonçada, que fazia rir até quando falava sério. Lembrar-se-á, certamente, de uma daquelas noites, com o Teatro Verdi lotado, a cortina se fechando e todos batendo palmas, palmas estalantes, para ele e seus companheiros em cena.

Ciro, com aquele olhar desconfiado e enviesado, vai agradecer com um simples, mas marcante, aceno de mão, como fazia sempre ao térmíno dos espetáculos.

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