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REPETECO

Bar corintiano x bar palmeirense


Na década de 1950 tínhamos dois bares tradicionais no início da Rua 9 de Julho: o Bar do Walter Nardelli e o Bar do Boni. Este tinha funcionado um pouco abaixo, na esquina da Praça Paula Souza (a praça onde hoje se situa a Biblioteca Municipal) e a Rua José Weissohn, mas mudou-se para bem em frente do Bar do Nardelli. Eles eram amigos, mas divergiam em suas preferências clubísticas: Walter Nardelli torcedor fanático do Corinthians, Boni torcedor fanático do Palmeiras (ele até dizia que Ademir da Guia era muito melhor que Pelé). Antes de se iniciar como empresário do ramo do transporte coletivo, Walter mantinha o bar com a ajuda de sua irmã Florinda, que era uma exímia cozinheira.

Quando Corinthians e Palmeiras se enfrentavam, se o Timão ganhasse, era aquela festa, com espocar de rojões, bandeira do clube afixada em frente ao bar e Walter, com aquele vozeirão rouco, comemorando em voz alta para o Boni ouvir. Este era mais comedido, não fazia barulho, mas demonstrava sua imensa satisfação na conversa com os fregueses. Ambos não chegavam a discutir, pois se respeitavam.

O Bar do Walter era frequentado por políticos e gente importante da cidade e o do Boni tinha uma freguesia heterogênea, composta por famílias, casais e alguns fregueses que marcavam ponto diariamente, como o “velho” Vicenzo Bifano. Uma coisa que precisa ser contada é que naquela época, quando a internet ainda era um sonho, o Bar do Boni oferecia informação imediata, tomando por base os informativos radiofônicos.

Aos sábados e domingos à noite, principalmente, todo mundo passava pelo Bar do Boni para saber os resultados do campeonato paulista, do Rio-São Paulo (não era disputado ainda o Campeonato Brasileiro), assim como dos certames amadores ou profissionais disputados pelos clubes de Salto. Se a Saltense, por exemplo, jovava numa cidade longínqua, como Assis ou Avaré, algum diretor ligava de lá para o bar, informando o placar e o proprietário prontamente colocava no quadro negro o resultado da partida. Quem não sabia do placar de alguma partida disputada em Salto, também procurava se informar passando por aquele bar, onde o quadro negro era colocado na parede do lado de fora.

Na época das eleições, as apurações demoravam vários dias e o Boni ia atualizando os resultados parciais, conforme eram divulgados pelas emissoras de rádio. Numa época em que as notícias andavam devagar, pois não existiam os meios de divulgação sofisticados como os de hoje, o Bar do Boni supria perfeitamente essa falta e por isso era visto com simpatia e admiração pela população local.

(Livro “Crônicas da Cidade” – 2002)


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