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REPETECO

Perdeu-se uma dentadura


Hoje a cidade conta com um comércio desenvolvido, que se moderniza a cada dia, oferecendo uma série de opções à população, reforçadas também pelos vários supermercados que se instalaram nos últimos anos. No setor de alimentação, por exemplo, estamos muito bem servidos, podendo se adquirir produtos nas padarias, mercearias, casas de frios, rotisserias, etc., quando não nos dirigimos a algum restaurante, lanchonete, trailer de lanche ou hamburgueria. Por volta das décadas de 1950, 60 e 70, principalmente, não se encontrava uma variedade muito grande de produtos e por isso tínhamos que ser abastecidos pelos verdureiros, leiteiros, padeiros, bucheiros, etc., além das feiras livres, onde os próprios produtores colocavam à venda seus produtos. A maioria deles utilizava carroças ou carrocinhas, puxadas por cavalos, para percorrer as ruas da cidade, cuja área urbana era bem menor que a de hoje. Praticamente as vias se situavam num retângulo que tinha como um dos lados a margem direita do Rio Tietê (ruas José Galvão e José Weissohn), do outro a Vila Nova e parte da Vila Teixeira; dos outros dois lados opostos tínhamos de um a Rua Marechal Deodoro e de outro o final da Vila Teixeira, terminando na Chácara Vendramini (onde hoje se situa o Terminal Rodoviário). Os carrinhos de entrega eram mantidos pelas padarias (as principais eram a do Conte, Pittorri, Bethiol, Mingo Lammoglia, Piaia e Cooperativa), pelos leiteiros (Scallet, Cardoso, Bressan, Marconi, Salvadori e outros), além dos verdureiros, fruteiros, bucheiros, meladeiros, etc. Os pães eram entregues de madrugada, colocados na porta ou nas janelas das residências, assim como o leite (ainda “in natura”), que eram despejados em recipientes deixados em frente às casas. Os verdureiros e fruteiros vendiam sua própria produção; o bucheiro, além do bucho, vendia miúdos de boi, coração, fígado e uma série de outros produtos que não eram encontrados com facilidades nos açougues. Meladeiro conhecemos apenas um, que vendia principalmente melado de cana de açúcar, levado num grande recipiente de alumínio e servido numa concha nos pratos ou vasilhames dos fregueses. Certa feita ele deixou de trabalhar porque teria ocorrido um fato lamentável (há quem diga que foi apenas um boato que disseminou na cidade): diziam que passando por determinadas ruas da cidade, em certa ocasião, ele teria pedido à freguesia: “Quem achar uma dentadura no melado, devolva, por favor”. Verdade ou mentira, o certo é que desde quando o boato se espalhou, nunca mais o meladeiro foi visto circulando pelas nossas ruas. Nota do autor – As “fake news” já faziam um efeito devastador naquela época, embora não com esse nome.

(Livro “Crônicas da Cidade” – 2002)




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