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REPETECO

Pirotecnomaníacos


Há uma certa semelhança entre o cacarejar da galinha, após botar um ovo, com a demonstração de euforia de alguém, manifestada através da soltura de rojões. Em Salto, aliás, qualquer coisa é motivo para o espocar dos fogos, principalmente no mês de junho.

Soltam-se rojões, por exemplo, quando o time de futebol do “fogueteiro” vence. É a razão mais frequente e o sujeito às vezes nem espera o final do jogo para iniciar o barulho, precipitação que certa vez levou alguém a pensar numa maneira de fazer descer os morteiros que tinham subido aos céus, quando o adversário empatou, em cima da hora. Fosse de vareta, ainda seria possível correr atrás e recolhê-la...

Soltam-se rojões quando o time adversário perde. Expliquemos: o corintiano, na grande parte das vezes, é antipalmeirense e vice-versa. Quando um deles perde, mesmo que seja para o time do Diabo, os simpatizantes do outro não perdem a chance.

Soltam-se rojões quando se ganha na loteria ou até no jogo do bicho. Na Federal ainda é justificável, pois se sabe quanto se vai ganhar. Mas em alguns outros jogos a coisa pode se complicar, como ao fazer a quadra na Megasena, pois a importância gasta em fogos pode ser inferior ao preço de um buscapé.

Soltam-se rojões quando se ganha as eleições. Este, aliás, é o motivo principal que evita a falência dos fabricantes de fogos. Talvez seja por isso que o governo não acaba com as eleições ou fica inventando mudança disso ou daquilo.

Soltam-se rojões quando se toma conhecimento de uma notícia boa: fulano aniversaria, ciclano casou, beltrano está fazendo 25 ou 50 anos de casado. Há os que comemoram mortes também, mas aí já é o caso de se torcer para o rojão estourar nas mãos de quem solta.

Soltam-se rojões também para avisar que a droga chegou, deixando eufóricos todos aqueles que sustentam o vício, que se satisfazem com o fato de que passará a ter, pelo menos por algum tempo, “mercadoria fresca”, como se isso fosse positivo.

Soltam-se rojões, finalmente, por nenhum motivo, apenas para vê-lo subir e fazer bum, bum, bum (se for de três tiros) ou ratatatá-bum, se for daquele outro tipo, também muito utilizado. Estes simplesmente soltam porque gostam ou são viciados em pirotecnia, que é a arte de utilizar os fogos ou os explosivos. Neste caso, podem ser comparados aos galos, quando tentam cacarejar como as galinhas, sem terem posto ovo.

(Livro “Vagueando” - 2010)


P.S. – 10 anos depois da publicação desta crônica, felizmente a situação mudou muito, pois hoje já não se solta mais rojões como antigamente, o que é bom para os animais e para os idosos, que ficam desconfortáveis com o barulho por eles proporcionado

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