REPETECO
Sérgio Reis: só dinheiro vivo
O Boca-de-Siri comentou na década de 1990 dois casos que mostravam que já naquela época o cheque estava desmoralizado. Um deles aconteceu com o cantor Sérgio Reis:
“Nem mais cantor sertanejo aceita cheque. Aconteceu em meados da década de 1990, por ocasião de um show do cantor Sérgio Reis, intérprete de músicas como “O Menino da Porteira”, “Panela Velha” e outras. Ele chegou por volta do meio-dia num ônibus tão grande que a frente estava estacionada em frente ao Hotel Kaskata, na Rua José Galvão, e a traseira ainda estava saindo da ponte sobre o Rio Tietê. Num primeiro contato com o empresário que o contratou, ambos conversavam amenidades, até que o assunto foi desviado para o mais importante: dinheiro. Dinheiro vivo. O empresário não tinha toda a importância, mas garantiu que até a hora do show o estabelecido (5 milhões de cruzeiros) seria entregue. Ofereceu um cheque, mas o cantor não aceitou.
Em sua longa carreira, Sérgio deve ter colecionado cheques de todos os tipos: borracha, voador, cow-boy e até aquele muito comum na época: cheque tiririca: que está em todo lugar, mas não vale nada. Ele, que não tem “coração de papel”, achou melhor não aceitar, para não ter que ficar com “mágoa de boiadeiro”.
Quem já foi mordido por cobra, tem medo até de barbante de pião e por isso Sérgio fincou o pé: só instalaria seu equipamento no Ginásio de Esportes e cantaria se os Barões, Castelos Brancos, Ruia Barbosas e Oswaldos Cruzes [que ilustravam as notas na época] aparecessem. Cruzes! Como ressuscitá-los? Apavorado, o empresário não foi mais visto num raio de 500 quilômetros de Salto, pois alguns mais afoitos poderiam fazê-lo cantar e dançar o ‘miudinho’.
Na hora do espetáculo muita gente se dirigiu ao Ginásio Municipal de Esportes para assistir ao show, mas não havia nem cheiro de Sérgio Reis, que nessa altura já devia estar se refazendo na macia poltrona do seu ‘bus’ intinerante.
Se fosse feito, o pagamento bem que poderia deixá-lo mais alegre, mas Sérgio mostrou que é do gênero sertanejo mas não é burro. Só abre a boca se puserem papel moeda em suas mãos. Ele raciocinou assim: ‘Quando o menino abre a porteira, eu lhe pago em dinheiro vivo. Por que teria que ser diferente comigo?’”.
(Livro “Cidade Divertida e Pitoresca” – 1999)