QUEM FOI QUEM
Antonio Boaventura, um sitiante que ficou conhecido como “benzedor”
Antonio Boaventura ficou muito conhecido na cidade como “Antonio Café”, não se sabe exatamente por quê. Nasceu em 1º de fevereiro de 1902, no sítio ou fazenda Três Cruzes, filho de João José Boaventura e de Maria Rita de Jesus, que tiveram 5 filhos, além de Antonio: Olívio, Augusto, João, Maria e Ana. Ele trabalhou na lavoura durante muitos anos, mas em 1932 passou a exercer também uma atividade que ele classificava como sua missão maior na terra, a de “benzedor”. Além disso atuou até como parteiro prático, atendendo a diversas gestantes impossibilitadas de se locomover até a cidade.
Antonio passou a benzer bronquite quando uma de suas filhas, Maria Augusta, foi atacada pela doença. Ele procurou atendimento com os médicos da cidade, um dos quais (dr. Assis) lhe disse que bronquite não tinha cura, recomendando-lhe um “benzedor”, Rafael de Góes, morador do Buru, próximo de Três Cruzes, onde Antonio residia. A menina foi curada, mas tempos depois Rafael procurou Antonio e lhe propôs passar a benzer as pessoas necessitadas, o que foi aceito.
Mudou-se para a cidade em 1954, aos 52 anos de idade e aqui continuou a exercer a função de “benzedor”, tornando-se muito conhecido e respeitado em virtude dessa atividade. Quando as pessoas o procuravam, ele fazia uma oração e um “benzimento”, para curar a bronquite, prática que era exercida ao lado de figueiras e na lua minguante (7 dias por mês, menos aos sábados, domingos e dias santificados). Tornou-se autodidata em fitoterapia (remédios de plantas) e homeoterapia, o que fez durante cerca de meio século, gratuitamente e até muitas vezes transportando os que o procuravam, com seu carro, até o local adequado: um grande canteiro de figueiras. Curiosamente, além do “benzimento”, Antonio recomendava às pessoas atendidas que não poderiam comer figo, fígado e nem tomar remédios contra a bronquite, assim como olhar para trás após deixarem o local. Por esse serviço, Antonio foi processado certa vez por prática ilegal da medicina, mas foi absolvido.
Antes de falecer, em janeiro de 1982, quando completou 50 anos como “benzedor”, “ Antonio Café” passou a incumbência de benzer as pessoas para um rapaz de 25 anos, João Batista de Oliveira, que atuou por algum tempo na função. Mesmo depois de ter falecido, familiares seus continuaram recebendo telefonemas e correspondência de pessoas por ele beneficiadas. Na época, entrevistado pelo Taperá, revelou que curou muita gente atacada pela bronquite, procedentes dos mais diversos pontos do país e até de países como Argentina, Paraguai, Portugal, Estados Unidos, Inglaterra, etc. Segundo ele, até médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo estiveram em sua casa, assim como advogados, professores, dentistas e até membros do Poder Judiciário, como um juiz da Corregedoria Geral da Justiça, de São Paulo.
Antonio nada cobrava, mas quando lhe davam alguma gratificação ele aceitava, o que lhe possibilitou adquirir um sítio, que vendeu, comprando 5 casas na cidade. Como não pôde se aposentar, pois passou a maior parte de sua vida trabalhando como lavrador, ele vivia de alguns rendimentos e da ajuda de alguns dos seus filhos.
Na política – Bastante conhecido na cidade e recebendo o reconhecimento das pessoas e famílias que ele tinha atendido e curado, conseguiu se eleger vereador na eleição de 1955, exercendo o mandato de janeiro de 1956 a dezembro de 1959. No entanto, não se candidatou à reeleição, pois achava que a política só cria inimizades.
Família – Antonio “Café” Boaventura casou-se em 14 de maio de 1925 com Escolástica Pauli, com quem teve 11 filhos: Maria Augusta, Ogenir, Genésio, Gonçalo, Hermínio, Germano, Sebastião, Lázaro, Maria Rita, Maria José e João.
Ele faleceu em 13 de maio de 1984, aos 82 anos de idade, dois anos após ter indicado seu sucessor.