CRONICANDO
Mesa de bar
Na quarentena pela qual estamos passando e que deve se transformar em setentena ou oitentena, se é que isso existe, sentimos falta de muita coisa: do abraço em nossos pais, irmãos, filhos e netos; do futebolzinho dos finais de semana; dos encontros com os amigos; das compras nas lojas hoje quase todas fechadas, enfim de muita coisa. Nesta semana, lendo o Estadão, visualizei a crônica de Gilberto Amendola, sob o título “Um mundo sem bar” e fui ler, pois imediatamente me lembrei da cervejinha dos finais de semana nas mesas de bar que o coronavírus está nos privando. Coincidentemente, no domingo, quando caminhava ouvindo algumas músicas da minha preferência, gravadas num pen drive, tocou “Mesa de bar”, interpretada por Alcione. De pronto concluí: taí o assunto para o Cronicando desta semana.
O cronista do Estadão escreve que não quer viver em um mundo sem mesa de bar: “Não sei qual vai ser o normal depois do fim da quarentena, mas, definitivamente, não quero viver em um mundo sem bar”. Diz que não é pelo álcool, nem pelos porres ou ressacas, “ao contrário, amigos. Bar é a celebração da vida, do amor, da inteligência e do companheirismo (..) Sem bar, o que nos resta é o meteoro (ou a pandemia)”. Filosofa, afirmando que “o bar é a arena das nossas maiores emoções. O consolo de quem perdeu. O pódio dos campeões”.
Exageros à parte, prefiro a letra de “Mesa de bar”. Ela diz que “Mesa de bar é lugar para tudo que é papo da vida rolar, do futebol até a danada da inflação. É coração, fantasia e realidade. É um ideal, paraíso onde nós ficamos à vontade”. Também é “cerveja suada matando a pau o calor. Vamos cantar aquela cantiga que fala da luta e do amor, mas antes brindar em homenagem àqueles que já não vêm mais (..) Em torno de um copo a gente inventa um mundo melhor, a dona birita levanta o moral de quem está na pior. (..) Esse remédio não falha, na mesa de um bar todo mundo é sempre o maior, todo mundo derrama as tintas da sua alegria, copos batendo na festa da rapaziada (..) Mesa de bar é onde se toma um porre de liberdade, companheiros em pleno exercício de democracia”.
Não sou um bebedor inveterado de cerveja, tanto que só tomo duas ou três ao todo no sábado e domingo, mas a crônica e a música me fizeram constatar que sinto falta do bate-papo com os amigos, costume que tenho desde o tempo em que tomava minhas caipirinhas de vodka no Bar do Gustão, na década de 1970. Estava vendo uma foto da época outro dia e lá estavam alguns que tinham presença costumeira, como Zé Carlos Rocha, Zequinha Tabajara, Serginho Barcella, Emilio Mosca, Carlinhos Nicácio, Adolfo Zuim e outros. Tem ainda os que já partiram, como Teli, Pedro (o Mr. Peter, alvo de tantas brincadeiras), Pio Coraine, Laerte Mosca, Nelson Madalena, Mário Bonatti etc.
Nos últimos anos, com o fechamento do Bar do Gustão, segui os remanescentes e alguns novos companheiros aos sábados para o Bar do Scallet e aos domingos no Clube de Campo Saltense. Nesses encontros semanais me junto a grupos costumeiros: no Scallet com o companheiro de redação Jorge Rodrigues, com o mordaz Lúcio Ferrari, irmãos Airton e Odair, Carlão, César, Geremias, Natal, Severino, João Lammoglia, Brichesi, Jura, Zé Carlos, Claudemir e outros. No Clube de Campo com Geraldinho Pauli, Pardal, Zezé, Carlão, Eugênio, novamente Claudemir, Edmur Cruz, Tuco Lammoglia, etc. Esta mesa do Clube conta até com o Giácomo (Nego) Dalla Vecchia, que toma sua água mineral, mas que vai lá, acredito, pelo papo, para ouvir as novidades, pois passa a semana toda no escritório da Cem e está morando num condomínio de Itu. Às vezes ele se desloca para uma outra mesa no Clube, mais selecionada em termos de posição financeira, para um papo com seu filho Ronei, Marinho Dotta, Zé William, Chiquinho Pavanelli, Perina, Annibal Sontag, Márcio Milioni, Mané, e outros. Quando isso acontece, lamento, brincando com os ocupantes da nossa “pobre” mesa, que infelizmente, com a saída temporária do Nego, ocorre nela uma sensível queda em nosso PIB - Produto Interno Bruto. Muito pior é a situação pela qual estamos passando, com o coronavírus, que nos priva por muito mais tempo do contato com os amigos, tornando nossos dias cada vez mais solitários e muito mais tristes. Nada de apertos de mão, abraços, brincadeiras, apenas a saudade daquela convivência amiga que um dia, se Deus quiser, há de voltar.