CRONICANDO
Barbeiros na quarentena
A imprensa publicou, na semana passada, uma notícia sobre a flexibilização em Portugal, na qual consta que no primeiro dia de reabertura econômica no país, os portugueses correram aos barbeiros e cabeleireiros. A gente está vivendo esse mesmo problema em nosso país, pois a não ser que alguns barbeiros ou cabeleireiros estejam atendendo os fregueses às escondidas, a maioria suspendeu suas atividades.
Eu, que estou também necessitando cortar o cabelo, me perguntei se não faria a mesma coisa: correr à barbearia, assim que isso fosse autorizado. Vieram-me à lembrança os profissionais que me atenderam desde minha infância até hoje. Foram poucos, pois costumo ser freguês fiel, porque me considero ter sido bem atendido por todos, uns mais, outros menos. Meu primeiro barbeiro foi o João Caldarelli, que tinha uma barbearia onde hoje trabalha seu irmão José, com o genro Cido, na Rua José Galvão. João foi meu 1º barbeiro e José o atual. Depois meu pai me levou para a barbearia onde trabalhavam o Romeu Murgilo e Tico Colaço, na 9 de Julho, onde hoje existe o prédio do Banco Itaú
Passei para o Genésio Longatti quando ele montou seu salão (trabalhava antes com o Emilio Telesi), na Rua Dr. Barros Jr. e depois na Itapiru, numa salinha ao lado do Bar do Betil. E foi ali, durante o corte de cabelo, que Genésio sugeriu o nome da revista que surgia em 1964, hoje jornal Taperá. Quando Genésio não me atendeu uma vez, porque cheguei pouco antes do horário de fechamento da sua barbearia, alegando que não abriria a porta nem para seu pai, me mudei para o salão do Edmur dos Santos, na 9 de Julho, mas foi apenas por dois meses, pois logo Genésio se desculpou.
Hoje barbearia se tornou um negócio como outro qualquer para vários barbeiros da cidade, tidos como “modernos”, pois além de cortar o cabelo e fazer a barba, executam outros serviços, alguns dos quais que já eram praticados pelas cabeleireiras. Os barbeiros, no entanto, foram e são personagens importantes na vida da cidade, pois melhoram a autoestima de muita gente, o visual e colaboram para a higiene dos fregueses.
Nas barbearias sempre aconteciam e devem estar continuando a acontecer alguns casos, dois dos quais aproveito para contar, um lamentável, outro engraçado:
Pretos não – Até a década de 1950 existiam na cidade as barbearias que não atendiam pretos, colocando inclusive um aviso bem visível em seu interior. Às vezes, porém, algum preto enfrentava esse preconceito e foi o que aconteceu com um saltense que se tornou jornalista do Correio Paulistano, de São Paulo, de nome Salatiel, muito amigo de políticos locais. Ele entrou, se sentou e logo foi advertido pelo barbeiro da época: “Não está vendo o aviso? Não atendo preto”. O jornalista nada disse, apenas desferiu um soco no rosto do barbeiro e foi embora.
Com pressa – Este segundo aconteceu com o Silvino Correia de Moraes, que foi goleiro da Saltense por muitos anos e funcionário da Light. Num sábado, na barbearia do falecido Edmur dos Santos, localizada na Rua 9 de Julho, em frente ao Itaú, ele entrou e como o salão estava lotado, disse ao Edmur que precisava cortar o cabelo com urgência. Edmur consultou os demais fregueses que esperavam ser atendidos e todos assentiram, achando que Silvino tinha um sério compromisso. Foi efetuado o corte do cabelo do freguês apressado, ele pagou, mas não foi embora. Sentou-se numa das cadeiras vagas, pegou o jornal A Gazeta Esportiva, que passou a ler tranquilamente, o que levou Edmur a perguntar-lhe:
- Ué, Silvino. O senhor não estava com pressa de cortar o cabelo?
- Realmente eu estava com pressa – respondeu Silvino – mas para cortar o cabelo e não pra ir embora.