CRONICANDO
Taperás e mandis, dois símbolos da cidade
Nesta Salto que comemora na próxima terça-feira 322 anos de fundação, dois símbolos foram adotados durante sua existência e ambos do reino animal: um peixe, o mandi, e uma ave, o taperá. O mandi, segundo se imagina, foi um apelido colocado nos saltenses pelos ituanos, que diziam que os que residiam em nossa cidade eram grandes consumidores desse animal vertebrado. A intenção, obviamente era nos diminuir, pois o peixe não era da primeira linha entre aqueles que podiam ser pescados no Tietê ou Jundiaí. Mas nós revidamos, apelidando os ituanos de sapos, batraquio que existia em grande número no vizinho município. O taperá foi adotado porque ele se tornou uma ave que existia em grande número na cidade, na época em que a cascata estava sempre cheia. Ele chegava aos bandos, ao entardecer, e ficavam agarrados àss pedras próximas à queda d’água, partindo ao amanhecer.
Até mais ou menos a década de 1970 pescava-se muitos peixes em nossos rios, alguns de grande porte, como os dourados, pintados, cascudos, etc. Existe até uma foto, que já publicamos numa de nossas edições especiais, mostrando um pescador da cidade (se não nos enganamos Octávio da Rós) com um peixe nas costas, repetindo aquela cena que aparecia numa vitamina chamada Emulsão Scott, destinada a recuperar a falta de vitaminas A e D. No caso dessa vitamina o peixe era o bacalhau.
O mandi ficava entre os peixes menores, que às vezes era até devolvido às águas, se o pescador tivesse conseguido fisgar peixes maiores e de sua preferência. Hoje nem o mandi sobrevive nas águas poluídas do Tietê. Às vezes surgem alguns que conseguem sobreviver sabe-se lá como, mas isso é raro.
Quanto ao taperá, trata-se de uma ave com coloração pardo-acinzentada, mais clara na parte inferior, com o meio do peito e o abadome brancos. É considerado parente próximo das andorinhas e quando os bandos vinham para Salto ocupavam as fendas das rochas próximas à queda d’água. Na língua tupi taperá significa “vindo da tapera”.
O historiador Elton Zanoni reproduz nas suas redes sociais trecho do livro de Auguste de Saint-Hilaire que faz uma detalhada descrição dos taperás, que conheceu quando passou por Salto. Deve-se lembrar ainda que o primeiro intendente saltense, dr. Barros Jr., foi autor de uma proposição que proibia e punia com multa de 5 mil réis, os que matavam taperás.
Na década de 1960 este jornal adotou o nome Taperá, surgindo a partir de então diversas empresas com esse nome e o dr. Archimedes Lammoglia homenageou a ave, dando-lhe destaque no seu hino à cidade, que fala das praças floridas e dos bandos de taperás, que a todos encantam.
Quem espera que essa pandemia do coronavírus termine logo, deve também sonhar que um dia possa-se pescar peixes, nem que sejam mandis, em nosso rios, e que os taperás voltem a encantar nossas tardes e manhãs, “voando e cantando de lá pra cá”, como diz a música de Archimedes.
É sonhar demais?