OPINIÕES
Flexibilização aos trancos e barrancos
Para quem não conhece essa expressão antiga, “aos trancos e barrancos”, pouco usada atualmente, esclarecemos que se trata de uma forma de dizer que determinada coisa é feita desajeitadamente, de maneira improvisada. E também uma forma de “levar uma situação adiante com grande dificuldade”. É o que está acontecendo com a flexibilização parcial estabelecida pelo Governo do Estado, depois de 60 dias de isolamento social. Esse isolamento, aliás, já não era obedecido por uma grande parcela da população, como mostram os registros diários, que acusam ser de pouco mais de 40% os que seguem a recomendação de ficar em casa.
Nos primeiros dias da nova situação vivida pelos saltenses, a exemplo do que ocorre com os demais municípios do Estado, pouco mudou. Mas, por outro lado, o número de casos novos têm aumentado consideravelmente, assim como as internações e até as mortes. Podemos nos considerar privilegiados, pois a quantidade desses casos felizmente não é muito alto na cidade, certamente por intervenção divina, pois o que se vê nas ruas é uma desobediência considerável das recomendações feitas pelas autoridades estaduais e municipais.
O uso de máscaras está sendo respeitado pela maioria, mas ainda tem aqueles que se sentem imunes a esse tipo de procedimento, achando que a doença vai atingir somente os outros, eles não. O distanciamento nas vias e locais públicos também não é devidamente respeitado, podendo-se ver grupos de pessoas convivendo sem obedecer a distância recomendada, com maior frequência nos bairros, onde até festinhas vinham acontecendo, sem que os participantes fossem importunados pela fiscalização.
Os supermercados são um capítulo à parte. Poucos são os que respeitam as recomendações, ignorando completamente os decretos do Governo Estadual e principalmente o baixado na semana passada pela administração municipal. Estivemos no último final de semana em três deles e verificamos que apenas um fazia o controle do número dos que ingressavam nas dependências: o Paulistão, que inclusive colocou uma funcionária para distribuir placas numeradas, para controlar o acesso. Nos supermercados Pague Menos e São Vicente não havia esse controle, limitando-se ambos a oferecer o álcool em gel, o que não tem justificativa, pois o decreto municipal estava em vigor desde a quarta-feira. Para ontem, sexta-feira, estava marcada uma visita da reportagem aos grandes supermercados da cidade, para verificar se as medidas exigidas estavam sendo obedecidas. Infelizmente, a fiscalização municipal é falha, pois tanto a Vigilância Sanitária como a Guarda Civil Municipal, que poderiam colaborar exigindo que fossem cumpridas as determinações, pouco agiram, por não ter um número suficiente de integrantes ou por não lhes ser exigida pelo Executivo uma atuação mais severa.
Não há necessidade de se aplicar multas indevidamente, mas uma ação no sentido de orientar e até agir repressivamente deve ser adotada, pois, se não, muitas pessoas podem transmitir a Covid-19 nos supermercados e em outros pontos da cidade e os que frequentam esses locais podem adquirir a doença por culpa daqueles que não tem a devida consciência.
Se a flexibilização continuar, que não seja aos trancos e barrancos, como está acontecendo.
CÁ ENTRE NÓS
Reabertura do comércio
Não foi a reabertura do comércio desejada pelos comerciantes e pelos eventuais clientes, mas ela pelo menos proporcionou alguns ganhos para os que passaram 60 dias à míngua e para os compradores que não podiam suprir as suas necessidades no período de fechamento. Quatro horas é um prazo muito exíguo, principalmente para as grandes lojas, como a Lojas Cem, cujo número de fregueses é bastante grande. Como se sabe, essa empresa adotou uma medida elogiável, que foi a de adiar o vencimento das prestações feitas através de carnês, além de não cobrar multas e juros. Segunda-feira, quando ela reabriu suas portas, formou-se uma grande fila em frente à loja da Rua 9 de Julho, principalmente, o que fez com que muitos perdessem horas aguardando o atendimento, apesar de terem funcionado vários caixas e de ter sido obedecido o distanciamento. Falhou o Executivo saltense ao não prever essa situação específica, permitindo excepcionalmente que a loja pudesse atender os que desejassem fazer seus pagamentos. Não seria uma permissão indevida, pois um número muito grande de lojas locais, durante o fechamento do comércio, trabalhou com as portas semiabertas, com cartazes autorizando a entrada para fazer o pagamento dos carnês, sem que fossem perturbadas pela fiscalização da Prefeitura. A Lojas Cem não utilizou esse expediente anteriormente, porque sempre obedece as leis, e por isso teve que expor o seu bom nome, que só não foi prejudicado porque os saltenses têm consciência da legitimidade e correção dos seus atos dessa empresa, provados continuadamente em seus mais de 60 anos de existência.
Comitê de gestão
Bastante elogiável a atitude tomada por dois partidos políticos (PT e PDT), por sindicatos, Associação Comercial, Associação das Indústrias e entidades religiosas, ao apresentarem uma proposta sugerindo a criação de um Comitê de Gestão para controlar os gastos e outras ações relacionadas ao coronavírus, medidas a serem implementadas para os trabalhadores e cidadãos em situação de vulnerabilidade; para mulheres vítimas de violência doméstica e mães solteiras; para pequenos comerciantes, microempreendedores, pequenos empresários, prestadores de serviços e autônomos. Existem dúvidas ainda como o Executivo vai receber essa colaboração, mas uma coisa é certa: ele não pode ignorar completamente esse documento. Não se trata de uma ingerência ou em uma forma de ditar normas a um dos três poderes. Ele deve ser recebido como uma tomada de consciência e de ajuda num momento difícil como este pelo qual passamos. Reconhecemos que nem tudo o que é proposto deve ser aceito, mas pelo menos deve ser discutido, buscadas alternativas e procurada a solução mais adequada. Pode-se discutir, por exemplo, a forma de ajuda aos pequenos comerciantes, que os proponentes estabelecem que seria de 4 milhões. Mas como direcionar essa importância sem ferir a legislação? Só vemos uma alternativa: isentando de pagamento dos tributos. O prefeito certamente também não vai pretender dividir com o Comitê o direcionamento dos gastos, pois essa é atribuição sua, mas isso pode ser feito de comum acordo, com a última palavra do Executivo. Existem pontos a serem analisados, mas uma coisa é necessária: boa vontade das partes para que se chegue a um consenso que beneficiará toda a comunidade.
Pregão eletrônico
O fato de a Prefeitura e o SAAE terem economizado R$ 327 mil em quatro pregões eletrônicos, por um lado é importante e até elogiável, demonstrando que existe preocupação com os gastos municipais. No entanto, essa exigência legal tem seus riscos. Lembramo-nos particularmente de uma licitação realizada em certa época para a compra de material escolar pela municipalidade. Uma papelaria vendia o lápis por, suponhamos, 1 real cada e outra por 3 reais. Evidentemente a Prefeitura teve que optar pelo preço menor, mas enquanto o lápis de 3 reais durava um semestre todo, o de 1 real, por ser de péssima qualidade, durava apenas 1 mês. Ou seja, a economia se transformou em gasto excessivo. Como diz o velho e batido ditado, “o barato às vezes sai caro”.
BOCA-DE-SIRI
AQUI NÃO!
Uma coisa tem encucado muita gente: por que Itu e Indaiatuba tem um número enorme de casos da Covid-19 e Salto não? Os dois municípios vizinhos estão na marca dos 3 dígitos há tempos e nossa cidade só agora ultrapassou a metade de uma centena de casos. Morte teve apenas uma, contra várias das duas cidades próximas. Será que o coronavírus não foi com nossa cara? Ou ele prefere os sapos e os indaiás em vez dos nossos mandis e taperás?