CRONICANDO
Vale a pena ver de novo
Depois de cerca de 4 meses de reclusão sem terem sido condenados, muitos estão procurando coisas pra fazer. Ajudar na cozinha, na limpeza da casa, na arrumação de cômodos abandonados, no descarte de roupas e outros objetos que ocupavam lugar, na colocação em ordem de livros, CDs e DVDs, dentre outras coisas, são tarefas realizadas neste período comandado pelo coronavírus e o jeito agora é ver se sobra alguma coisa que faltou fazer.
Muitos que nem sequer eram muito fanáticos pelo WhatsApp, estão agora trocando mensagens com parentes e amigos, que não estranham essa repentina volta a um papo há muito abandonado, porque também estão sequiosos por falar com alguém. O computador ou o netbook são outras alternativas, mesmo para aqueles não acostumados a acessar as redes sociais, mas às vezes essa pode ser uma opção que causa mais perda de que ganho de tempo.
Alguns estão na base do replay, ou seja, passando o tempo revendo livros, assistindo a filmes e programas de TV e ouvindo CDs há muito esquecidos. É o caso do amigo Dowa Pittorri, que tem uma vantagem sobre a maioria de nosotros; com seus 91 anos de idade, sua memória não está lá essas coisas e, segundo ele próprio confessou, está revendo filmes como se fosse a primeira vez. Lembra-se apenas que determinadas produções cinematográficas são de boa qualidade, mas esqueceu muitos detalhes e por isso as assiste como se nunca as tivesse visto. Registre-se que a memória dele não está ruim, ela só falha em casos específicos. Além dos filmes, ele também resolve, como se fosse a primeira vez, as palavras cruzadas do Estadão, jornal que costuma repetir os jogos desse passatempo.
Ver de novo não é exclusividade do Dowa. Eu e certamente muitas outras pessoas agem da mesma forma. Agora, por exemplo, estou relendo livros de Sidney Sheldon, Ken Follet e Tess Gerritsen, dentre outros. A hora que acabar tem a coleção da Agatha Christie, que já li duas vezes. E quando não sou abastecido de filmes novos pelo Ruy Ceconello, assisto aos antigos da minha coleção e aos novos e antigos da Netflix.
Assistir ou ver de novo não é exclusividade desta época em que o coronavírus nos impede de viver a vida normal que tínhamos. Desde antes do aparecimento dele a principal emissora de TV do país, a Rede Globo, explora esse filão, com seu canal Viva, que reproduz programas e novelas que exibiu há anos, assim como o Globoplay, que também disponibiliza produções antigas. A própria Rede Globo, como TV aberta, dedica uma parte de sua tarde na apresentação de novelas com a denominação “Vale a pena ver de novo”.
Se antes do coronavírus ver de novo para alguns já valia a pena, agora pode não só ser um prazer, mas também uma necessidade. a