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CRONICANDO

O 7 de Setembro de cada um


O Dia da Independência traz recordações para muitas pessoas, principalmente para quem, como aluno, participou de vários desfiles ou de comemorações cívicas em suas escolas. Essas lembranças podem ser boas ou ruins, dependendo do que aconteceu. Durante minha existência tive até o momento três feriados de 7 de Setembro que considero marcantes, dois deles que podem ser considerados frustrantes e um que me traz boa lembrança. Eles aconteceram quando eu era ainda adolescente como estudante do curso ginasial; na juventude, estudando na Escola Senai de Itu e ao servir o Exército Brasileiro, na década de 1960.

1º 7 de Setembro – O primeiro aconteceu na década de 1950, quando estudava no Colégio (hoje Escola Estadual) Paula Santos. Naquela época aconteciam comemorações nas escolas locais na data da Independência do Brasil, ou desfiles pelas ruas da cidade. Num determinado ano a data caiu numa sexta-feira e nesse dia eu teria que comungar, pois ela seria a última para completar a novena. Quem atingisse as 9 comunhões (uma por mês) teria algum benefício, se não me engano um lugar reservado no Céu (!), pelo menos é o que diziam e a gente acreditava. Como não poderia faltar à festividade da escola, participei dela e saí correndo, junto com alguns amigos, em direção à matriz de Monte Serrat, para pegar o final da missa e comungar, mas quando chegamos na igreja a cerimônia religiosa já tinha terminado e o monsenhor João Couto já saía em direção à sua residência. Postamo-nos à sua frente, na porta lateral, e rogamos a ele para que voltasse e nos desse a comunhão, argumentando que aquele era o último dia da novena, mas ele não se comoveu. Resultado: todo nosso empenho para comungar 9 meses seguidos tinha sido em vão.

2º 7 de Setembro – O segundo 7 de Setembro também foi frustrante. Eu tinha uma vontade louca de fazer parte da fanfarra do Senai e como não havia vaga para tocar caixinha ou bumbo, me candidatei para tocar clarim, embora nunca tivesse colocado um instrumento como esse na boca. A fanfarra do Senai iria tocar no desfile que iria se realizar no feriado em São Paulo, por isso menti ao responsável pela fanfarra que tinha tocado clarim na fanfarra da Escola Anita e ele acreditou. Nos ensaios eu ficava lá atrás, fazendo de conta que tocava, mas não saía som nenhum do meu instrumento. Consegui enganar até a véspera do desfile, quando aconteceu o último ensaio. O chefe da fanfarra que iria se apresentar na capital veio até Itu para dar as últimas instruções e fazer comprovações. Ele se aproximava dos integrantes e verificava se os mesmos estavam desempenhando seu papel direito e quando chegou até mim, logo viu que eu não tocava nada. “Pode sair!”, afirmou, para meu desencanto.

3º 7 de Setembro – Este foi o mais feliz dos 20 primeiros anos da minha vida. Eu tinha feito o curso para cabo no Quartel de Itu e aguardava a saída do resultado, que mostraria aqueles que iriam ser promovidos. No dia 7 fiz parte da delegação, que seguiu num caminhão com assentos na carroceria, para desfilar no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, sem precisar tocar nenhum instrumento, apenas segurando o mosquetão, sentado num banco, juntamente com outros 15 ou 20 soldados. Foi uma apresentação rápida e logo voltamos para o Quartel de Itu. Ali chegando, um soldado me avisou: os que serão promovidos a cabo têm seus nomes afixados na sala de avisos. Fui até lá e constatei, felicíssimo que meu nome estava entre os 7 ou 8 que passariam a cabo a partir daquele dia. Vim alegre para Salto, louco pra contar a novidade para meus pais e gozar em minha casa a grande notícia.

Neste 2020, ano do coronavírus, vamos ter um 7 de Setembro completamente diferente dos quais já passamos. Não vai ter desfile, nem comemoração cívica com hasteamento de bandeiras, nada. Cá entre nós: não vão fazer falta. Teremos muitos 7 de Setembro para comemorar assim que a Covid for embora. Tirem o feriado para suas recordações e lembrem, saudosos, de uma época em que podíamos sair de casa, conviver com os amigos e sequer imaginávamos que teríamos um dia que usar máscaras e álcool em gel. Nossos temores eram outros.

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