CRONICANDO
No tempo dos chuviscos na TV
Quando a TV foi inaugurada, em setembro de 1950, não tínhamos nenhum aparelho em Salto. E demorou um bom tempo para que tivéssemos. Só pessoas bem abonadas financeiramente conseguiam comprar os aparelhos que custavam muito caro e reproduziam imagens distorcidas, com muito chuvisco e saídas do ar frequentes. Era a época do televizinho, quando as pessoas faziam “visitas” aos moradores próximos bem na hora em que começavam as novelas ou os bons programas. Esse expediente não apresentava bons resultados, pois era um suplício esperar por alguns bons momentos, em que se podia ver os atores, cantores e até as mocinhas que apresentavam os anúncios ao vivo.
Eu era criança e assisti aos primeiros programas de televisão na residência de Luiz Milanez, na esquina da Avenida D. Pedro II com a Rua 23 de Maio. Assim que escurecia, a molecada que brincava na rua poeirenta aguardava que Milanez autorizasse a entrada na sala de sua casa, onde os meninos se acotovelavam sentados no piso, enquanto Milanez e sua esposa dona Matilde se acomodavam nas poltronas da sala. Precisava ter muita paciência, pois na maior parte do tempo só se via chuviscos. No dia seguinte o prestador de serviços Zéli aparecia para mudar a direção da antena, o que fez centenas de vezes, subindo numa das torres das muitas que existiam nas residências da cidade, formando uma “floresta metálica”.
Fui televizinho em outros locais da cidade, como na sede da A.A. Avenida, que funcionava num salão hoje ocupado por uma escola, na esquina da Rua Itapiru com Rui Barbosa. Explica-se: Milanez era o “dono” do clube, na época e instalou o aparelho lá. Também fui assistir a alguns jogos de futebol em várias residências, levado por amigos, como na casa do Walter Carra, na Rua Prudente de Moraes, em frente ao atual prédio do CEC.
Um dia meus pais compraram um aparelho de TV na R. Dalla Vecchia S.A., que os oferecia em promoções, mas quando casei fiquei alguns dias sem poder assistir aos programas. Até que um dia um companheiro do Lions Clube de Salto, Renardo Pravatta, proprietário da Eletro São Jorge, que também vendias TVs, mandou entregar uma em minha casa na base do “depois a gente acerta”.
Os primeiros aparelhos eram vendidos na cidade pela R. Dalla Vecchia S.A., que oferecia também assistência técnica, oferecendo marcas como Philco, a principal delas, em seus anúncios (foto). Enquanto isso, a Eletro São Jorge oferecia marcas de segunda linha, como Widevision e Inelca.
Durante vários anos os saltenses não puderam receber imagens de qualidade em seus aparelhos. Elas chegavam pelo UHF, oferecendo poucas opções em matéria de canais: TV Record (a Globo dos anos 60, com programas de humor, shows e festivais de música), Excelsior (famosa nos anos 70, com novelas de qualidade), surgindo depois a Cultura, Manchete e TV-S (atual SBT), dentre outras.
Apenas no final da década de 1980 e início da de 1990 é que as imagens melhoraram e hoje o que se assiste em casa, comparando com antigamente, é um verdadeiro cinema. Nos últimos anos a tecnologia teve um avanço extraordinário. Agora tem até programas e filmes em 3-D. Não se assustem se no futuro o Hulk, Batman ou até o Coringa entrarem na sala de sua casa.
ANÚNCIO DA R. DALLA VECCHIA S/A