OPINIÕES
Saúde e falta d’água, problemas eternos
Desde que o mundo é mundo, ou nem tanto, existem dois problemas praticamente insolúveis nos municípios brasileiros, dentre os quais Salto se inclui: os relacionados ao atendimento na área da Saúde e a ocasional ou constante falta d’água nas residências. No que se refere à Saúde, nos 250 anos de existência do nosso município, o atendimento médico era deficiente e o hospitalar nem existia. As pessoas eram atendidas pelos raros médicos que prestavam serviços à população e vários deles se tornaram famosos porque faziam da profissão um verdadeiro sacerdócio. Foi o caso, por exemplo, do dr. Henrique Viscardi, chamado de “Médico dos pobres”, cujo exemplo foi seguido por outros profissionais no século passado, podendo-se citar, dentre eles, os drs. Emilio Chierighini, Euclides Carvalho Nogueira, Armando Maestrello, Angelo Ferraro, Adriano Randi e Archimedes Lammoglia.
Quando havia falta desses profissionais, o atendimento era feito por enfermeiros e outros que não tinham as qualificações técnicas necessárias, mas com sua experiência ajudavam a resolver os problemas. Era o caso de Luiz Milanez, Araldo Bertani, Joaquim Ribeiro, Mário Bertani, Laerte Milanez, Antonio Lázaro Vendramini, Antonio Teruo Kubo e vários outros. Como não havia hospitais em Salto, as pessoas eram levadas até Indaiatuba, Itu ou São Paulo, sendo que na capital recebiam os cuidados do dr. Archimedes Lammoglia ou médicos por ele indicados.
Hoje contamos com um número grande de profissionais na área da Saúde (médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, etc.), além de 2 hospitais e diversas clínicas, mas nem por isso o serviço funciona perfeitamente. Existem sempre reclamações, por melhor que seja a atuação das empresas do setor, que atuam nas casas de saúde, clínicas, postos, etc. Tem sempre aquele cidadão que não é atendido adequadamente, surgindo as reclamações, as críticas dos que são contrários aos administradores, etc. Isso nunca vai acabar, porque o erro é inerente ao profissional que executa o serviço, que esta sempre sujeito a ele. Por isso a situação pode até melhorar, mas nunca será perfeita.
Quanto ao abastecimento de água, nos primeiros tempos tinha-se que consegui-la nos poços que existiam em muitas residências ou em “biquinhas”, cujas nascentes se localizavam em vários pontos da cidade. Em 1912 foi implantada a primeira rede de água e esgoto, pela Empresa de Água e Esgoto de Salto S/A, após o que a Prefeitura assumiu o serviço durante vários anos. Em 1969, Salto teve sua primeira adutora e estação de tratamento, que nos anos seguintes foi sendo melhorada e hoje consegue abastecer toda a cidade, graças ao Ribeirão Piraí e ao Córrego do Buru. A quantidade de água é satisfatória nos tempos de consumo normal, mas quando a estiagem atinge o município, como agora, as reclamações surgem, assim como as críticas. E a escassez de água nem sempre é a razão principal. Contribuem para isso também os defeitos nas bombas, a queda de energia elétrica, a necessidade de reparos ou limpezas que interrompem o serviço, a tubulação antiga que se rompe com facilidade, dentre outras coisas.
Salto agora pode ter um reforço no abastecimento com as águas do Rio Jundiaí, mas não esperem que os problemas serão resolvidos, pois vários deles não podem ser evitados. Assim como os relacionados à Saúde, os que envolvem a falta d’água são também crônicos, não se vislumbrando uma solução totalmente definitiva a curto prazo e até para o futuro. Hoje o que se pode dizer, infelizmente, é que eles serão eternos, a não ser que a tecnologia interfira e faça com que eles não se prolonguem por tanto tempo.
CÁ ENTRE NÓS
Mau atendimento
Sabe-se que uma pessoa com problemas de saúde que é mal atendida num hospital, clínica ou posto de saúde se torna um revoltado contra a administração, às vezes injustificadamente, como às vezes acontece em relação ao AME (Ambulatório Médico de Especialidades), que é um órgão estadual, embora funcione em nosso Hospital Municipal. O prefeito sempre leva a culpa mesmo quando não tem e também quando, através do secretário respectivo, adota as medidas necessárias, mas o funcionário responsável não as segue devidamente. É o caso também da falta d’água, que é de responsabilidade do SAAE, ligado à administração, mas que tem vida autônoma. A tarefa desse órgão é das mais ingratas, pois têm que se explicar sempre que a água não chega a um bairro ou região, pelos mais diversos motivos. Seu superintendente tem que prestar contas de tudo e nem sempre consegue. Aliás, seria interessante que ele atendesse as convocações dos vereadores e fosse fazer os esclarecimentos devidos na Câmara, pois não faz nas redes sociais. Mas, apesar de convocado, ele raramente comparece, possivelmente recebendo recomendação da administração para não fazê-lo. Isso precisa mudar, pois não apenas os vereadores, mas principalmente a população precisa saber o que acontece para não ter que tirar conclusões precipitadas ou fora da realidade.
Os boçais
Vários adjetivos podem ser utilizados para identificar esses indivíduos (dos sexos masculino e feminino) que não aceitam as recomendações para usarem o álcool em gel, as máscaras e evitarem aglomerações. Vejam alguns sinônimos: boçais, ignorantes, xucros, panacas, néscios e broncos, dentre outros. Alguns desafiam as demais pessoas, circulando pela cidade sem máscara, podendo transmitir para outros a Covid-19, pois não se sabe se contraíram ou não o vírus. Outros chegam a brigar com os que cumprem o seu papel, que os alertam para que usem máscara ao ingressar num estabelecimento comercial, num escritório, num salão de beleza, etc., como temos visto nos noticiários da televisão. Eles não aceitam as recomendações, achando que são os únicos certos e apenas se contraírem a doença e passarem por situações delicadas, como muitos passam, é que serão convencidos a mudar essa lamentável atitude. Daí pode ser tarde.
Falta de fiscalização
Desde que o coronavírus passou a atingir as pessoas, em fevereiro ou março deste ano, não se tem uma fiscalização adequada em Salto. Graças à ajuda divina (só pode ser por isso), a Covid não atingiu um número ainda maior de saltenses e não se verificaram tantas mortes como em municípios vizinhos. A Prefeitura adotou várias providências médicas, dotou o Hospital Monte Serrat dos recursos necessários, fez reivindicações junto ao Governo do Estado, conseguiu respiradores, mas falhou em alguns setores, como nos poucos exames realizados e principalmente para evitar aglomerações. Não agiu com rigidez contra aqueles que não obedeciam os decretos estadual e municipal, efetuou poucas multas e nos últimos tempos tem permitido que se formem aglomerações inclusive numa das principais praças da cidade, a XV de Novembro. Se cabe à Polícia Militar tomar determinadas atitudes, a Prefeitura deveria cobrar dela uma ação mais efetiva; se é à Guarda Civil Municipal que tem de agir, o secretário da Defesa Social deveria fazer a exigência a ela e a fiscalização deveria ser cobrada para impedir que os abusos continuem a ser cometidos na área central, nos bairros, assim como para evitar eventos como bailes e festinhas em muitos pontos da cidade. Ainda é tempo de corrigir, pois o coronavírus deve permanecer entre nós por ainda um longo período. Infelizmente.
BOCA-DE-SIRI
Não somos mais inteligentes
Segundo levantamento do Connected Smart Cities, Salto saiu neste ano da lista das 100 cidades mais inteligentes e conectadas do país. Tivemos boas colocações, mas neste ano vamos ficar de castigo, porque pioramos nossa situação. Dividindo a população de 120 mil habitantes pelos 365 dias do ano, 328 saltenses vão ter que ficar pelo menos um dia nos 12 meses do ano num canto da sala, com um cone na cabeça. Quem se habilita? Se a situação piorar, a punição poderá ser ajoelhar em grãos de milho, como alguns professores mais severos exigiam.