CRONICANDO
Comícios de antigamente
Desde 27 de setembro até 12 de novembro está autorizada a realização de comícios, mas eles devem ser diferentes dos que se realizavam antigamente. Não será permitida a participação de artistas, apenas de som e trio elétrico e – o principal – deverá ser evitada a aglomeração de pessoas, em virtude dos perigos causados pelo coronavírus.
Antigamente os comícios eram mais sugestivos, tinham “mais sabor” e quem os assistia, mais do que ouvir as propostas dos candidatos, se divertia com as atitudes, linguajar e afirmações descabidas de certos candidatos. Havia, porém, os que extasiavam a plateia com seus discursos, podendo-se citar dentre eles dois que marcaram presença: Hélio Steffen, que chegava a emocionar e a arrancar lágrimas dos assistentes, e Joseano Costa Pinto, cujo bordão na abertura dos seus discursos ficou famoso: “Povo excelentemente bom e excelentemente amigo de Salto”. Ficaram famosos também candidatos que se digladiavam no palanque (cada um no seu, evidentemente), como Vicente Scivittaro, o “Chinchino”, Mário Dotta e Jesuíno Ruy.
Passados muitos anos da época em que os comícios eram importantes e atraíam muita gente, ficaram na memória alguns fatos pitorescos ocorridos durante eles. Citei alguns no meu livro sobre a Política Administrativa de Salto, como estes:
- Um candidato não acostumado a usar da palavra, rabiscou antecipadamente um pronunciamento logo descartado pelo responsável pelas apresentações nos comícios, que lhe entregou um outro, que o candidato começou a ler. Como tropeçava muito nas palavras, parou na metade, amassou-o, colocou-o no bolso do paletó e passou a ler o seu. Recebeu chutes na panela, pois não terminava o discurso e muitos ainda iriam se manifestar, até que foi empurrado pra trás, enquanto um outro candidato era anunciado.
- Outro candidato (Carlito Papai Noel) fez a plateia rir quando disse que foi acusado de dar uma “mancada” na Câmara, onde exercia o cargo de vereador. Confessou que a acusação procedia: mancava mesmo, mas porque tinha um olho-de-peixe no pé.
- O ex-jogador de futebol, Zéli, que era negro,tinha como slogan em sua propaganda política: “Não vote em branco, vote no Zéli”. Num comício defendeu o candidato a prefeito, que era acusado de gostar de uma cachacinha. “Não tem nada demais uma pessoa tomar uma pinguinha”, afirmou, acrescentando: “Na 2ª Guerra Mundial muitos brasileiros enfrentaram o frio que fazia na Itália tomando uma pinguinha, o que evitou que morressem”.
- Finalmente um episódio que ficou na história política saltense como dos mais hilariantes: o candidato a vereador Yolando de Noronha elogiava as qualidades oratórias de candidatos do seu partido. Chamou Hélio Steffen de “patativa saltense”, pássaro que tinha um belo canto; definiu Mário Dotta como “o rouxinol saltense” e assim por diante. Archimedes Lammoglia, que também estava no palanque, não aguentou e lembrou de um outro pássaro não citado: “Um é a patativa, outro é o rouxinol e eu, o que sou? Vira-bosta?”.