CRONICANDO
Éramos seis
Permitam-me fazer uma analogia com a obra de Maria José Dupré, que inclusive virou novela da Globo. Só que a história é diferente: ela se passa no final da década de 1950, quando a Escola Paula Santos funcionava ainda de favor em salas de aula do então Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Eu fazia parte dos seis a que me refiro (foto), juntamente com Vlademir de Camargo Alarcon, o “Lelo”, Luiz Carlos de Campos, o “Lula”, Luiz Gonzaga Rodrigues, o “Zico” e Orpheu Facchini Filho. Lembrei-me desses colegas nesta semana, quando tive conhecimento do falecimento de um deles, o Zico, que era um dos mais comportados e que brilhou como jogador de futebol, defendendo a equipe do Nacional F.C., várias vezes campeã da cidade. Os outros cinco trilharam caminhos próprios, aplicando os conhecimentos que lhes foram ministrados na escola que os anos transformaram em tradicional e respeitada.
Senti muito sua morte, causada pelo maldito vírus que atinge milhares de brasileiros, pois ele era o único dos amigos com quem mantinha contato quase semanal. Encontrávamos quase todos os domingos no Supermercado Carrefour, quando ríamos bastante com os fatos que acontecem na cidade e no país. Ele sempre percorria o supermercado e não comprava nada, o que me levava a acusá-lo de fazer tour de graça no estabelecimento comercial. Ele ria.
Estudávamos no Paula Santos na época em que um número reduzido de alunos frequentava as aulas do curso ginasial, apenas 13 em nossa turma, que contava com 6 homens e 7 meninas, todos usando o uniforme branco e azul, que sucedeu a “fardinha” amarela. Dos 6, dois nos deixaram há alguns anos: Lelo faleceu quando foi prestar socorro a vítimas de um acidente numa estrada da região e Zé Ustrito, que se formou advogado, morreu vítima de doença. Zico junta-se agora a eles, mas felizmente ainda estão entre nós Orpheu, que reside em Campinas, onde trabalhou e formou família e Lula, o mascote da fanfarra da escola, que voltou a morar em Salto, depois de trabalhar fora e com o qual me encontrei algumas vezes, como quando ele esteve na redação do Taperá para ver se eu lembrava da letra de algumas músicas que cantávamos na Escola Anita Garibaldi, que ele também frequentou.
A foto da época em que os seis e as demais meninas estudavam no Paula Santos fui revê-la nesta semana e fiquei imaginando o que o destino reservava aos que nela apareciam. Certamente não poderiam prever que cada um seguiria por um caminho e que metade deles pararia no meio da trajetória, deixando um rastro de lembranças que o tempo não apaga. Sobramos nós três: Orpheu, Lula e eu, cuja subida etérea nos levará a um patamar onde reataremos o sexteto que conviveu por alguns anos.
Lembraremos então das bagunças feitas em classe, que deixavam algumas professoras doidas; das manhãs frias das aulas de educação física na quadra do Regatas; das noites de estudos às vésperas dos exames de final de ano, durante as quais mais comíamos do que estudávamos (lanches de frios ou de sardinha feitos com o pão quentinho que íamos buscar de madrugada na Padaria Primavera); daquela vez que fomos furtar pedaços de trilho descartados da ferrovia pra vender ao Padreca e fomos surpreendidos por funcionários da Sorocabana (quase deu cana); da queima de fios para conseguir o cobre, cuja venda nos permitiria ir ao cinema; da dança estilo indígena em frente ao Tancredo, em torno do livro queimado de francês, depois que eu e Orpheu conseguimos a nota para sermos aprovados; das excursões que o professor Paulo Padilha promovia e que nos permitia conhecer fazendas e pontos atrativos de Campinas, Sorocaba e São Paulo.
Enfim, vai ser uma longa conversa, desta feita com o grupo completo. Vamos ter assunto pra toda eternidade...
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