CRONICANDO
Alguém conhece a Elizete?
Gostaria muito de conhecê-la, mas não tenho ideia de quem seja, se é branca, negra ou mulata. Se é magra ou gorda, alta ou baixa. Se é moça ou velha. Se é rica ou pobre. Se é culta ou ignorante. Não sei nada sobre ela, mas, se pudesse encontrá-la, gostaria de perguntar-lhe por que está sendo tão procurada.
Explico: há mais de um mês, todos os dias, de segunda a sábado, recebo mais de 20 telefonemas diários, cuja procedência ainda não descobri, no qual uma máquina pergunta: “É da casa da Elizete?”. Respondo que não e vem a segunda pergunta: “Você a conhece?”. Respondo também que não, a voz pede desculpas, diz que vai consultar seus arquivos, mas 15 ou 20 minutos depois faz nova ligação: “É da casa da Elizete?”.
A tortura começa às 8 da manhã no meu telefone fixo, que mantenho para receber algumas ligações que me interessam e a minha mulher, e só terminam às 6 da tarde. Às vezes tiro o telefone da base, mas assim que recoloco as ligações recomeçam com a pergunta que atormenta: “É da casa da Elizete?”.
Já perdi a paciência várias vezes, falando palavrões, mas não tem adiantado. A máquina não se ofende, não toma conhecimento e recomeça logo depois, o que quer dizer que a moça que ligou não vai para aquele lugar que lhe mandei e nem se ofende porque eu a acusei de não ser filha de uma boa mãe. A gente perde a paciência e acaba ofendendo, mas infelizmente nossos palavrões parece que não são gravados e, se são, é preciso ser muito sem vergonha e covarde pra não tomar nenhuma atitude contra minha pessoa. Particularmente, gostaria de ser processado por essa maldita ou maldito perturbador do sossego alheio.
Aí, então, o mistério seria revelado: quem procura Elizete? O que ela fez de mal para ser tão procurada? Se for devedora de alguma empresa, como geralmente ocorre quando os telefonemas se sucedem, sua dívida deve ser muito alta para ser cobrada, talvez sejam milhares de dólares ou de euros. Se fosse menos e em reais eu até pagaria pra me ver livre dos telefonemas.
Não pode ser qualquer Elizete, pois deve existir muitas na cidade, tem que ser específica, aquela que estão procurando. Vai ser difícil saber de quem se trata, pois não fornecem seu sobrenome, nem outros dados para identificá-la, portanto, prezadas Elizetes, aquelas que não devem e não temem, não se sintam ofendidas e nem se preocupem.
A verdadeira Elizete talvez nem saiba que estão à sua procura. Se por acaso ela ler esta crônica, peço-lhe por tudo o que é mais sagrado: da próxima vez, por favor, capriche ao fornecer o número do seu telefone. Com isso vai impedir que alguém, como eu, tenha e continue à beira de um ataque de nervos.
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