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CRONICANDO

Sabor de antigos casamentos


Naquela casa simples e movimentada, alguém grita lá de dentro: “Viva o noivo! – Viva a noiva!” e as pessoas respondem: “Viva!”. Primeiro o corte pelos noivos do bolo, feito por uma conhecida confeiteira da cidade, seguido da distribuição dos docinhos e salgados, disputados avidamente pelos convidados. Sobre a mesa, garrafas de Tubaína e Soda Limonada produzidas em Salto na fábrica dos Lenzi, localizada no Largo São João.

Ainda menino estive em várias dessas festas de casamento e era a oportunidade que a criançada tinha de consumir os creminhos, barquinhas de maionese, bombocados, bem-casados e outras delícias, além dos espetinhos de salsicha e grãos de uva fincados num mamão verde.

Durante minha caminhada do último sábado pela manhã passei pelas proximidades da Estação Ferroviária e me surpreendi com uma bem montada Cafeteria que há um mês ali funciona, de propriedade do Cleber Volpato, filho do saudoso amigo José Edis Volpato, o Zé Gaúcho. Ele me ofereceu um creminho que me fez regredir 50 ou 60 anos, quando comi esses mesmos creminhos, com o mesmo gosto, em festas de casamentos. O Cleber me explicou que ele era feito por sua avó Maria e sua produção foi recuperada agora.

Saí de lá e terminei minha caminhada lembrando das festas de casamento de outrora, muito diferentes das de hoje, que acontecem em salões de festa ou clubes, algumas com muito luxo e abundância na distribuição de doces e salgados, até mesmo com almoços ou jantares. As de antigamente eram bem mais modestas, a gente se regalava com os docinhos servidos, mas quase sempre saíamos com a sensação de “quero mais”, pois a distribuição era limitada e não satisfazia. Para mim isso só não aconteceu uma vez, quando se casou uma amiga de minha mãe, que morava numa casa da Brasital da Rua 23 de Maio. Na festa as pessoas foram bem servidas e até houve considerável sobra, como tive a oportunidade de verificar quando fui com minha mãe na casa da noiva, que havia partido em lua de mel. Minha mãe e outra vizinha ficaram encarregadas da limpeza da casa e eu fui até lá acompanhar o serviço e me fartei comendo os docinhos que haviam sobrado. Quase tive uma indigestão e por muitos anos ficaram gravados em minha memória aqueles momentos de satisfação incontida de um menino tendo à frente dezenas de delícias que ele consumiu sem dó nem piedade.

Daquele dia até hoje participei de muitas festas de casamento, mas aquela me marcou indelevelmente. Eu a comparei à situação vivida por alguém percorrendo sedento o deserto, que encontra um oásis com água limpa e abundante, que consome sofregamente.

Faz muitos anos, mas ainda sinto o sabor de festas de casamento que aconteciam de um jeito que não se repete mais.

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