CRONICANDO
Meu primeiro porre
Tenho muitas lembranças da Festa da Padroeira, às vezes chamada de Festa do Salto e também de Festa Setembrina. Ainda criança, meus pais me levavam à praça principal, onde funcionava o parque de diversões e dezenas de barracas, desde as que vendiam roupas até as que ofereciam produtos diversos, como vinho de São Roque, pastel, mel de abelha, torrone, etc. Tinha ainda as barracas de sorteio da igreja e de diversas entidades, religiosas ou não. Era uma ocasião especial para os saltenses, que aguardavam o ano todo pela comemoração e se preparavam para isso, os homens mandando fazer ternos nos vários alfaiates de cidade, as mulheres os vestidos nas também numerosas costureiras, além das compras de sapatos novos. Muitos também pintavam a fachada de suas casas, pois era necessário apresentar um bonito visual para receber os parentes que vinham passar os feriados dos dias 7 e 8 de setembro na cidade.
Foi numa Festa do Salto, da Padroeira ou Setembrina que aconteceu meu primeiro porre. Tinha 14 ou 15 anos e na noite do dia 8 fui até a praça, como era comum na época, com o amigo Vladimir (Lelo) Alarcon. Paramos inicialmente numa barraca do parque, na qual a gente comprava um bilhete: se o coelhinho entrasse na casinha que tinha o nosso número ganhávamos um prêmio. Fomos sorteados com um litro de Vermute Milioni, saímos daí e abrimos a garrafa, que eu e Lelo “secamos” em pouco tempo. Os efeitos logo surgiram. Saímos da praça e fomos em direção à atual Avenida Vicente Scivittarro, onde os fogos estavam colocados para espocar por volta de 22 horas. Faltavam apenas 5 minutos e o Lelo deitou embaixo dos rojões e foguetes, dizendo que iria dormir ali. Eu e o responsável pelos fogos a muito custo conseguimos tirá-lo e saímos em direção à Rua Prudente de Moraes, subindo até a Avenida D. Pedro II.
O Lelo morava numa casa em frente ao Coleginho, onde funcionou o bar La Cantina, e fomos até lá. Ele foi direto pra cama, pois não aguentava parar em pé e eu sentei-me numa cadeira de balanço, na sala e comecei a movimentá-la, da frente pra trás, de trás pra frente. O efeito foi imediato: vomitei na sala toda, permaneci mais alguns minutos, depois de ver a besteira que fiz, e fui pra casa, pois não aguentava parar em pé.
No dia seguinte fui dar uma volta na praça e encontrei-me com os pais do Lelo. A mãe dele foi logo me contando mais ou menos o que eu já sabia:
- Valter, o Lelo se embriagou ontem, foi dormir bêbado, vomitou na sala e fechou a porta por dentro, impedindo-nos de entrar. Tivemos que arrombar a janela para termos acesso e até agora ele está dormindo. Se ele tivesse saído com você e não com amigos que o levam para o mau caminho, isso certamente não teria acontecido.
Eu tinha a fama com os pais do Lelo de rapaz correto, bonzinho, por isso para continuar merecendo a confiança deles teria que confessar que eu também tinha bebido muito e que...
Eu ia confessar, mas ela não me deixou concluir:
- Não precisa explicar nada. Conheço muito bem você e sei que é incapaz de alguma atitude condenável.
Nesse dia prevaleceu um velho ditado: “quem tem fama, deita na cama”...
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