CRONICANDO
Fui pupilo do “Fiolão”
Desculpem o termo “pupilo” que a gente usava em priscas eras e que os dicionários registram como afilhado, apadrinhado e apaniguado, mas que há décadas era como os locutores esportivos chamavam os jogadores ao se referir aos que eram dirigidos pelo técnico. Pois fui pupilo do “Fiolão”, falecido nesta semana, quando tinha 17 anos de idade e ele já era técnico do Juvenil Saltense, mesmo ainda jogando futebol (foi campeão amador no ano seguinte, em 1959).
Poucos sabem, mas joguei futebol em minha juventude, como goleiro. Foi em meados da década de 1950, quando fui convidado para jogar pelo Juvenil da A.A. Avenida, pelo técnico Zéli, que foi goleiro da Saltense e da equipe que jogava na Ilha Grande. Certa feita encontrei-me com o “Fiolão”, que foi meu amigo de infância, o qual me convidou para me transferir para o Juvenil da A.A. Saltense, que ele dirigia. Meu primeiro jogo seria num amistoso no Estádio “Alcides Ferrari”, mas ainda nos vestiários o “Fiolão” me avisou que eu iria ficar na reserva no primeiro tempo, porque tinha que prestigiar o Bene, que vinha atuando como titular, apesar de ser baixinho. “Você entra o 2º tempo e vira titular nos próximos jogos”, disse, justificando ainda que como não tinha camisa reserva de goleiro eu iria vestir uma camisa de jogador de linha. Aceitei numa boa.
Só que justamente nesse dia foi tirada uma foto da equipe, na qual Bene aparecia “vestido de goleiro” e eu como jogador de outra posição. O Bene passou a usar essa foto para mostrar e se gabar com quem se relacionava que um dia “Valter Lenzi foi meu reserva no Juvenil Saltense”. Depois cheguei a ficar na reserva numa partida da equipe profissional contra o Primavera, em Indaiatuba, na qual não cheguei a entrar porque o goleiro titular, o Vavá, mesmo bastante machucado, não deixou o gramado, pois seria uma temeridade colocar um garoto em seu lugar num jogo tão importante.
Depois de servir o Exército e de me mudar para São Paulo, abandonei a carreira de jogador e o Brasil perdeu um grande goleiro (segurem o riso, por favor). Restou a satisfação de ter sido pupilo do “Fiolão”, que marcou época dirigindo equipes que ele defendia como se os jogadores fossem membros de sua própria família. Ficou também minha satisfação de poder proporcionar ao amigo Bene a oportunidade de contar vantagem por ter-me colocado na reserva um dia, com a necessária ajuda do técnico “Fiolão”.
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