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CRONICANDO

Os Natais eram diferentes


Comparando com os Natais das décadas de 1950 e 1960, as diferenças são grandes para as festas que acontecem nos dias que antecedem o 25 de dezembro atualmente. Naquela época Salto era uma cidade predominantemente operária e o dinheiro disponível para outros gastos, se não aqueles costumeiros, previamente estabelecidos, era reduzido. A maioria das empresas, inclusive as de maior porte, não pagava o 13º salário, que só surgiu na década de 1960, criado através de decreto do presidente João Goulart. Havia exceções. A Brasital, por exemplo, pagava uma “gratificação de Natal”, com valores variados, beneficiando mais os diretores e o pessoal do escritório, mas os demais funcionários ganhavam também um dinheirinho a mais, que utilizavam para comprar frutas de Natal, como uvas, pêssegos, ameixa, além dos produtos secos, como nozes, avelãs, castanhas, amêndoas, etc.

Numa época em que não existiam os supermercados, os armazéns faziam a vez deles, oferecendo os produtos natalinos, que eram colocados em sacos de aniagem abertos, logo na entrada do estabelecimento. Como praticamente não faltava emprego, as famílias tinham a oportunidade de pelo menos comprar um ou dois tipos de produtos natalinos e algumas frutas. O objetivo era o almoço do Natal, quando seus membros se reuniam. Evidentemente, tinha que ter outros produtos e a campeã da preferência era a leitoa. Tinha-se que encomendar com antecedência nos açougues e com os proprietários de sítios ou fazendas onde havia a criação de porcos. Muitos pediam a colaboração das padarias, que assavam as leitoas em seus fornos, outros optavam por outros tipos de carnes, como lombo e frango, não se cogitando, naquela época, pelo peru, que nos dias atuais passou a ter lugar nas mesas natalinas.

Durante alguns anos eram vendidas na cidade as cestas de Natal, a mais famosa dela a Cesta de Natal Amaral, que dava muitos prêmios, além de oferecer uma cesta em embalagem de vime. Num desses anos um golpe foi aplicado e muitas famílias que pagaram as parcelas antecipadas, não receberam a cesta e amargaram um Natal sem o brilho que imaginavam.

As compras de Natal faziam com que o comércio local, que não era muito desenvolvido, aumentasse seu movimento e suas vendas. As principais lojas eram as preferidas da população, pois ofereciam uma grande variedade de produtos, dentre eles roupas, tecidos e calçados. Pode-se citar a Loja Dotta (ou “Loja da Francisca”, como era conhecida), a Casa Armênia, (dos Panossian), Loja do Altino, do Mário Baldi, da Catarina e outras, nas quais se podia fazer as compras fiado, cujos valores eram anotados numa caderneta e os prazos de pagamento cumpridos rigidamente nos meses seguintes. Ouvia-se na época, de muitos comerciantes frases garantindo que vender para os operários tinha muito mais garantia do que vender para os mais abonados, alguns dos quais se “esqueciam” de pagar.

Um costume da época era a montagem de presépios, na igreja e em residências da cidade. Houve um ano que até mesmo foi realizado um concurso para escolher o mais bonito, pois era grande o número de moradores que tinha prazer em mostrar imagens do nascimento de Jesus Cristo, alguns até acrescentando movimentos para tornar a exposição ainda mais interessante.

A noite de 24 para 25 de dezembro, ao contrário de hoje, não era tão festiva. Poucas eram as famílias que se reuniam nessa noite, deixando para o almoço do dia seguinte a comemoração. Nesse dia os adultos que recebiam presentes (não eram todos), se satisfaziam com roupas e artigos para a cozinha. Já as crianças, resumiam sua preferência por bolas de futebol, caminhõezinhos ou carrinhos (os meninos) e bonecas ou casinhas em miniatura (as meninas), brinquedos que levavam para as ruas empoeiradas para mostrar aos demais com orgulho. Não havia doações como hoje e por isso os meninos pobres apenas olhavam de longe, recolhendo-se imediatamente para suas casas, nas quais lamentavam que Papai Noel mais uma vez não atendera seus pedidos.

Quem sabe no próximo ano?

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