CRONICANDO
Fiquei milionário... em dólares!
Comecei bem o ano de 2021. Dentre as centenas de e-mails que recebo diariamente, um me chamou a atenção e tinha como título: “Parabéns, caro vencedor da loteria”. Como jogo na loteria pela internet, achei que meus números tinham sido sorteados, mas a notícia era ainda melhor: eu ganhei um prêmio de 3.600.000,00 USD, ou seja, três milhões e seiscentos mil dólares americanos! Isso representa cerca de 19 milhões e 800 mil reais.
Segundo a explicação que me foi dada, essa loteria foi organizada através do sistema de votação pela internet e meu e-mail estava entre os sortudos vencedores: “Você tem a garantia de rastrear e verificar o site abaixo para a confirmação do Quadro de Loteria em que você foi selecionado entre os vencedores do ano. Encontre o seu número vencedor”. Também me indicava um site onde eu poderia verificar o prêmio do fundo vencedor. A data do sorteio teria acontecido no dia 9 de janeiro deste ano e os números que me deram direito ao prêmio foram: 1 – 5 – 12 – 18 – 41 e 42.
Também era explicado que eu deveria entrar em contato com o escritório de pagamentos para receber a bolada, que poderia ser por transferência bancária, entrega em dinheiro e pela abertura de uma conta bancária online no CBD. Foi ainda me indicado um tal de professor Hamza Ibrahim, diretor do Departamento de Remessas do Banco Comercial de Dubai, para a transferência urgente e rápida do meu prêmio, sorteado pela Mo-Lottery Award Notification Office, de Dubai. O e-mail terminava me cumprimentando pela grande sorte que tive.
Antes de mais nada comecei a pensar onde aplicaria os 3 milhões e 600 mil dólares: primeiro daria uma bela fatia para meus familiares; depois para os demais parentes e respectivas famílias; para meus amigos mais próximos, inclusive todo o pessoal do jornal; para todas as entidades beneficentes da cidade; destinaria uma boa importância para a compra de cestas básicas a serem distribuídas todos os meses às famílias carentes do município; daria uma contribuição para associações que cuidam dos animais; enfim, quem fosse necessitado iria receber o seu quinhão.
Imaginei os problemas que enfrentaria: formação de enormes filas em frente da minha casa de pessoas que também iriam reivindicar auxílio; correria grande risco de eu e meus familiares sermos alvos de sequestros; haveria muitas reclamações de quem se julgaria merecedor de uma importância maior da que recebeu; que parte do dinheiro distribuído seria gasto indevidamente; que traficantes iriam intensificar suas vendas, explorando os preços das drogas, enfim o objetivo principal não seria devidamente atingido.
Analisando melhor o e-mail, me perguntei como ganhei nessa loteria de Dubai se sequer joguei; que os números com os quais eu teria ganhado o prêmio não são aqueles que normalmente jogo pela internet (o 25 e o 29 aparecem em todas as minhas apostas, pois se referem ao dia do meu aniversário e ao do aniversário de minha esposa Zuleima); que se eu entrasse no site que me foi fornecido estaria me expondo perigosamente, pois eles têm o objetivo de conseguir informações, podendo sofrer prejuízos futuros.
Então, pensando melhor, decidi: não vou correr o risco. Se o professor Hamza Ibrahim, de Dubai, insistir, vou dizer a ele que não me interessam os 3 milhões e 600 mil dólares. Prefiro ficar com meus minguados reais, porque, como dizia um certo filósofo: se você for suficientemente esperto para ganhar um dinheiro que não lhe cabe, vai ter que ser suficientemente cretino para pensar que vai recebê-lo.
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