OPINIÕES
As ações que viram “tiros no pé”
Os exemplos são muitos, não só em nossa cidade, mas em todo o país, como se tem observado no noticiário nacional dos últimos dias. Em relação a estes, os riscos dos brasileiros serem prejudicados no que se refere ao fornecimento de vacinas e insumos é considerável porque foram feitas afirmações, gozações e manifestações que colocaram em cheque as relações que mantemos com dois países que são fundamentais para nos auxiliar na pandemia que se agravou nos últimos meses. Referimo-nos à China e à Índia, que fabricam as vacinas e fornecem a matéria prima para que elas possam ser produzidas.
Todos acompanharam as afirmações desairosas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos contra os chineses, procurando desqualificar a Coronavac por eles produzidas em grande escala, dizendo que elas não eram confiáveis e outras bobagens que prontamente foram repelidas pelo embaixador da China no Brasil e pelo próprio governo chinês. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também fez algumas gozações contra os chineses, inclusive imitando personagens do Maurício de Souza, o que desagradou profundamente as autoridades chinesas. Agora o troco está sendo dado.
Em relação à Índia, o Brasil votou contra uma proposta apresentada por esse país e pela África do Sul na Organização Mundial do Comércio, em outubro de 2020, visando suspender temporariamente as patentes de insumos e equipamentos médicos para combater a Covid-19. O Brasil, que poderia se abster de votar, se aliou aos Estados Unidos e votou contra, desagradando a Índia.
Tanto a China como a Índia estão agora indo à forra: a China cria obstáculos para nos fornecer mais vacina e insumos e a Índia vendeu 2 milhões de doses da vacina para o Brasil, recebeu, e agora não faz a entrega, preferindo priorizar outros países. Bolsonaro, vendo a besteira que fez (mais uma) agora quer se aproximar dos chineses e procura desfazer a imagem perante os indianos, mas a bobagem já está feita. Não está sendo fácil reparar os danos causados pelos “tiros no pé” contra chineses e indianos.
No que se refere a nossa cidade, tivemos 2 “tiros no pé”, ambos disparados pelo então vereador Edemilson dos Santos. Evidentemente, ele não imaginava que denúncias feitas por ele ao Ministério Público iriam causar danos irreparáveis ao nosso município. Não foi sua intenção, mas causaram. A primeira foi em relação ao Estádio Municipal, entregue pela administração Geraldo Garcia, em seus primeiros dois mandatos, à Show de Bola-Nardelli. Como consequência dessa denúncia, a cidade perdeu o Estádio, uma equipe profissional e também uma faculdade, a Sant’Anna, causada pelo efeito colateral da denúncia sobre o Estádio. Em 2017, Edemilson questionou a quantidade de cargos comissionados na Prefeitura novamente ao Ministério Público (que geralmente só age quando questionado) entrou com uma ação que causou a demissão de todos os comissionados, o que está causando problemas terríveis ao atual governo municipal, do qual, ironicamente, Edemilson faz parte. Este último “tiro no pé” ou “efeito bumerangue”, sobre o qual já nos manifestamos em outras ocasiões, foi ainda mais danoso e o novo prefeito, assim como seu vice, o próprio Edemilson, estão sentindo os efeitos que inclusive podem comprometer uma atuação mais eficiente da equipe comandada por Laerte Sonsin Jr.
Fica a dúvida: vale a pena atirar, correndo o risco desse tiro atingir o objetivo e suas consequências serem tão funestas que levam a quem atirou a vontade de trazer a bala de volta, o que, nesta altura, já não é mais possível?
CÁ ENTRE NÓS
Transporte coletivo
O transporte coletivo já foi um bom negócio em Salto. Hoje a empresa vencedora da licitação e que há muitos anos vem prestando esse trabalho aos saltenses encontra dificuldades, tendo em vista não só a pandemia que desde março de 2020 reduziu as viagens e o número de passageiros, mas também outras providências que deixam de ser tomadas ou são tomadas de forma discutível pela Prefeitura, que é quem passou a coordenar o setor. Antes da pandemia circulavam 42 ônibus diariamente e quando da licitação realizada em 2019 a previsão é que 400 mil pessoas se utilizariam do serviço, o que acabou não acontecendo. Esse número caiu para 160 mil e mesmo assim os ônibus continuam lotados, principalmente nos horários de pico, responsabilidade para a qual a empresa se exime de culpa, entendendo que se um maior número de ônibus circulasse, haveria maiores condições de respeitar o distanciamento social. A Prefeitura não autorizou mais ônibus, pois pelo contrato em vigor teria que desembolsar um valor maior do que disponibilizaria se pagasse em dia o subsídio (indenização) a que tem direito. Apesar da boa situação financeira do município, no final da administração anterior, o pagamento desse subsídio, ou parte dele, não ocorreu, ficando a responsabilidade para o atual governo. Resta saber se o contrato firmado entre a Prefeitura e a empresa será mantido, se haverá modificações ou se será firmado um outro, evidentemente com a aquiescência das partes.
Prestadores de serviços
Começou bem a nova Mesa Diretora da Câmara de Salto promovendo reuniões com os principais prestadores de serviços junto à Prefeitura. Foram selecionados os mais importantes (Hospital Municipal, Funerária Saltense, Nutriplus, C.S.O. Ambiental e também a autarquia SAAE). Na legislatura passada, os vereadores da oposição (inclusive o presidente da nova Mesa, Cícero Granjeiro Landim) sempre fizeram críticas aos prestadores de serviços, na maioria das vezes sem elementos comprobatórios, mas tudo indica que a partir deste ano, conhecendo como funcionam, seus direitos e deveres, os vereadores terão melhores condições de avaliar a atuação de cada um deles, suas virtudes e seus defeitos, agindo com a imparcialidade que se espera deles.
Lojas Cem
Sem dúvida alguma a empresa Lojas Cem é um orgulho para nós saltenses. Ela enfrentou a pandemia de forma diferenciada das outras empresas do setor de móveis e eletrodomésticos, fechando por 3 meses suas mais de 280 lojas, deixando de vender e até de receber as prestações dos carnês que representam cerca de 70% do seu faturamento. E quem não pagou naqueles meses em que as unidades estiveram fechadas, não teve o acréscimo de juros em seus débitos. Se analisarmos essa atitude sob o ângulo empresarial, poderemos chegar à conclusão que na situação pela qual as empresas e o próprio país passaram, não se permitiria um posicionamento tão exemplar como esse que foi adotado pela Cem. O lógico seria a empresa terminar 2020 com um déficit considerável, mas para surpresa geral, ela teve um faturamento de cerca de 5,4 bilhões de reais, com lucro superior aos 340 milhões de 2019. Milagre? Ajuda dos céus? Não, capacidade de gestão, reconhecimento dos clientes, seriedade, honestidade, enfim atributos que se tornaram costumeiros nos mais de 60 anos de existência. A grande imprensa, inclusive a revista Veja, destacaram a performance e nós, saltenses, na cidade nascedouro da Cem, só temos que festejar o sucesso, aplaudindo os diretores e os milhares de colaboradores, torcendo para que por muitos anos possamos repetir que felizmente ainda bem que Salto e o Brasil têm as Lojas Cem.
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