QUEM FOI QUEM
Deoclésio A. Paixão, o sanfoneiro que tocou por mais de 80 anos e até para o presidente Geisel
Todos o conheciam por “Crécio”, um sanfoneiro autodidata que começou a tocar o instrumento musical aos 10 anos de idade e só parou algum tempo antes de falecer, em novembro de 2002. Deoclésio Alves Paixão, seu nome de batismo, nasceu aos 28 de setembro de 1911, numa fazenda de Cabreúva. Veio para Salto em 1940 e aqui viveu grande parte de sua vida trabalhando em pedreiras, mas todos o conheciam pelas suas participações nas festas que aconteciam na cidade e até mesmo em simples apresentações de músicos que formavam conjuntos, alguns dos quais marcaram época. Não rejeitava convites e a pagamento ou não (a maior parte não) se apresentava onde era chamado e contribuía para o sucesso do evento.
“Crécio” era autodidata e demonstrava sua satisfação ao animar acontecimentos que requeriam a presença de seu grupo, pois estava sempre sorrindo, transmitindo essa alegria a quem o via tocar. Apresentava-se tanto numa festa junina como em shows, em bares e restaurantes, em residências, enfim em todo lugar para o qual era chamado. Ao chegar em Salto, aos 29 anos de idade, vindo de Cabreúva, já casado com Araci Demarqui Alves (desde 2 de junho de 1934), ingressou no “Conjunto Aurora”, de David Galafassi, que contava com músicos famosos na época, como Liceu Preto, Joaquim Castellini, Mário Effori e Amancio Maestrello. Não se restringia, porém, a esse conjunto, pois tocava também em alguns outros, não só em Salto, mas também em Itu, onde era muito conhecido. Apresentava-se nos shows realizados na Rádio Convenção de Itu a partir da década de 1940 e na Rádio Cacique, na década de 1950, quando ela se instalou também em Salto, animando os shows que eram apresentados no salão do Alberico de Oliveira, onde existe hoje um estacionamento de veículos, em frente ao Fórum da comarca, na Avenida D. Pedro II. Também se apresentava em shows com artistas famosos no Cine São José, como quando do show com a cantora Emilinha Borba, uma das mais famosas da época (década de 1950). Participou ainda, juntamente com outros músicos saltenses, do grupo denominado “Seresteiros de Itu”, na vizinha cidade e dos “Seresteiros do Passado” em Salto, este integrado também por José Castellari, Antonio Hyppolito, Zequinha Marques e outros.
Para o presidente - Era comum vê-lo tocando em locais simples, como bares do centro e da periferia, juntamente com outros músicos e em locais selecionados, como aconteceu em 1963, quando participou do “Festival de Outono”, no Clube Ideal, promovido pela matriz de Nossa Sra. do Monte Serrat. Nessa época estava no auge de sua carreira como músico, sendo convidado, inclusive, para participar de eventos realizados em outras cidades. Destaque-se a apresentação que fez em Brasília, quando integrou um conjunto ituano, tendo tocado para o presidente Ernesto Geisel, na residência do ministro Paulo Rocha Machado. Emocionou o presidente tocando “Barril de pólvora”, sua preferida, o qual fez questão de parabeniza-lo, apertando-lhe a mão.
Mais de 80 anos – “Crécio” tocou por mais de 80 anos e até pouco tempo antes de falecer ainda se apresentava em serenatas e festas familiares, executando músicas de sucesso dos mais variados gêneros, pois se saia bem interpretando todos eles. Com sua inseparável sanfona, companheira de velhas glórias, levava alegria ou emoção, dependendo do número musical que apresentava.
Ciclista - Com mais de 80 anos ainda circulava pela cidade com sua bicicleta. Conta-se que num dos passeios ciclísticos do qual participou, que começou na cidade e terminou no Parque das Lavras, na hora da premiação ele foi escolhido como o ciclista mais velho do evento, mas tinha que apresentar um documento, provando sua idade. Como havia esquecido de levar, voltou de bicicleta até a Vila Ideal, no centro, onde morava, e em seguida foi até o Parque das Lavras para receber o prêmio. Isso demonstra sua capacidade física mesmo em idade tão avançada.
Família – O casal “Crécio”-Aracy deixou apenas um filho: Luiz Antonio, conhecido por “Quenco”, que foi goleiro das equipes amadoras e profissionais da A.A. Avenida, A.A. Saltense e Guarani Saltense A.C., além de técnico dessas e de outras agremiações esportivas da cidade.
Seu falecimento ocorreu no dia 1º de novembro de 2002, quando contava 91 anos de idade.
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