QUEM FOI QUEM
Alcione Pereira deixou Salto em 1954, teve trajetória de sucesso e voltou 60 anos depois
Ele ficou conhecido na cidade como “Cabecinha”, no tempo em que nela residiu, de 1952 a 1954, mas o apelido não tinha razão de ser, principalmente pelo fato de ele ser nordestino, que geralmente tem cabeça grande. Mas sua cabeça era normal no tamanho e possuía os neurônios necessários para ativar sua inteligência, que era das mais privilegiadas. Isso foi provado quando viveu cerca de 3 anos em Salto e nos 60 anos seguintes, quando ele, graças à sua capacidade intelectual, ocupou cargos em pelo menos duas das mais importantes empresas do país, em cargos diretivos: como coordenador de um dos noticiários brasileiros mais importantes, o Repórter Esso, da Esso Brasileira de Petróleo, e a Editora Abril, considerada a mais poderosa do Brasil, com suas dezenas de revistas e campanhas meritórias, principalmente envolvendo a Educação.
Alcione veio para Salto a convite do médico e deputado Archimedes Lammoglia, que o conheceu quando ele foi fazer uma reportagem no Sanatório de Campos do Jordão, onde Archimedes estava internado. Ele começou a enviar artigos para o jornal do deputado, O Liberal, no final de 1951 e em 1952 se mudou para Salto, passando a morar num hotel da Rua 9 de Julho durante os 3 anos que permaneceu na cidade. Ele dirigiu o jornal até o início da 1954, quando voltou a São Paulo para atuar na empresa jornalística da qual se afastou para vir para Salto, a Assapress.
13 irmãos – Alcione nasceu em 19 de março de 1928 na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte. Era um dos 14 filhos do casal Adélia Araújo Pereira (professora) e Sebastião Pereira da Silva, um comerciante. Cursou os antigos primário e ginasial em Caícó e como não tinha o curso médio em sua cidade, mudou-se para Natal, capital do Estado. Em Natal teve seu primeiro emprego, no Iapetec (Instituto de Aposentadoria dos Empregados em Transportes de Cargas, transferindo-se para São Paulo em 1949, aos 21 anos de idade. Depois de 2 anos passou a fazer “bico” na Asapress, agência de notícias localizada no Pátio do Colégio, onde trabalhava à noite.
Em Salto – Alcione revolucionou a imprensa local no período em que atuou na cidade: O Liberal se tornou mais noticioso, realizou muitas entrevistas, passou a publicar fotos que ele próprio tirava, coisa rara na época, e polemizou com os políticos da ala contrária a Lammoglia. Teve muitos embates com o prefeito Vicente Scivittaro, um líder popular que utilizava métodos que ele não aprovava e que elegeu dois sucessores, também criticados por Alcione (Hélio Steffen e Joseano Costa Pinto).
Mesmo depois de ter deixado o órgão de imprensa local, continuou a enviar artigos e entrevistas de São Paulo, deixando em seu lugar na cidade alguns jovens que assimilaram seus ensinamentos jornalísticos e continuaram a fazer de O Liberal um jornal que era crítico e merecia a preferência dos saltenses, o que aconteceu durante vários anos.
Casamento – Durante sua estadia na cidade, Alcione conheceu uma professora, Zuleika Vitali Morato, com quem viria a se casar e com quem teve duas filhas, Marta e Cláudia. O casamento aconteceu na igreja de Nossa Sra. do Monte Serrat e a festa na indústria Têxtil Assad Abdalla, que tinha como gerente o tio de Zuleika, Orlando Vitali.
Com Juscelino – Em 1955 Alcione foi designado pela Asapress para acompanhar Juscelino Kubitscheck em sua campanha eleitoral para a presidência. Durante 6 meses viajou com o político mineiro pelo país, no avião do candidato, visitando mais de 2.000 municípios brasileiros. Foi oferecido a Alcione um emprego público por Juscelino, mas ele não aceitou, preferindo continuar na agência de notícias, atuando na cobertura das atividades presidenciais, no Rio de Janeiro, que era a Capital da República.
Esso e Abril - Uma reportagem que ele fez sobre a Petrobras, levou-o a ser convidado para trabalhar na Esso, na qual passou a ganhar o dobro do salário que recebia na agência. Na Esso foi galgando importantes cargos, até chegar a coordenador do Repórter Esso, o primeiro e mais famoso noticiário de radio-jornalismo do País, apresentado na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e posteriormente também na TV Tupi. Permaneceu na função de 1957 a 1968, quando pediu demissão, pois tinha proposta (que aceitou) para trabalhar em São Paulo na Lista Telefônica Brasileira, como gerente.
No ano seguinte, um jornalista amigo o convidou para ingressar na Editora Abril. Sua missão seria tornar a empresa mais conhecida em todo o Brasil e não apenas em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília, o que conseguiu. Por isso, trabalhou como gerente do projeto de expansão da Abril, depois atuou como diretor comercial da Divisão da Educação, diretor de Publicidade das revistas Realidade, Placar e Quatro Rodas. Tornou-se amigo de Victor Civita, que dirigiu a Abril por muitos anos, permanecendo na empresa até 1997, quando se aposentou.
Pousada e Salto – Depois que deixou as atividades jornalísticas, montou uma pousada na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo, onde permaneceu durante alguns anos. Quando passou a pousada para um sucessor, ficou algum tempo em São Paulo, até que no final de 2014 resolveu voltar para Salto, tendo morado no prédio de apartamentos localizado na Avenida Vicente Scivittaro, com sua segunda esposa, Marlene, que foi sua secretária na Abril durante 25 anos.
Academia – Em dezembro de 2015 ele ingressou na Academia Saltense de Letras, tendo participado das reuniões, apesar de suas dificuldades de locomoção. No ano seguinte o estado de saúde de sua segunda esposa se agravou e ele teve que voltar a residir na Capital, voltando para o apartamento onde morara anteriormente, proximidades da equipe médica que a atendia.
Faleceu em 2 de setembro de 2020.
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