QUEM FOI QUEM
José Fernandes de Oliveira (“Zé Batatão”), o tipo popular mais famoso em todos os tempos
Hoje já não é mais tão comum, mas antigamente, até os anos 1970 ou 1980, havia na cidade vários tipos populares, alguns dos quais aceitavam os apelidos que lhes colocavam, enquanto outros se revoltavam quando eram abordados pelas pessoas, quase sempre com a intenção de deixá-los irritados. Num trabalho publicado em sua coluna “Arquivo” do jornal Taperá, Ettore Liberalesso apontou, em 1992, os tipos populares mais conhecidos de Salto, destacando aquele que foi o mais famoso deles em todos os tempos, ou, como assinalou em sua publicação, “um que encabeçaria, certamente, qualquer lista e cujo apelido era ‘Zé Batatão’”. Os que com ele conviviam o chamavam de “Seu Zé”, tratamento que era mais respeitoso, pois se usassem o “Zé Batatão” certamente seriam alvos do sua reação, que só não era violenta porque os ofensores fugiam.
Seu verdadeiro nome era José Fernandes de Oliveira. Nasceu em Monte Mor, em 1873, e ainda adolescente, veio para Salto, tendo se casado com Maria Cecília de Jesus, com ela morando numa casinha simples próxima da matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat.
Trabalhava com uma carrocinha da Prefeitura, fazendo pequenos carretos, mas foi de grande valia quando das epidemias que assolaram Salto em 1917, 1921 e 1924. Sua carroça servia para transportar tanto os variolentos (atacados pela varíola) e vítimas da febre amarela para o Hospital de Isolamento (prédio hoje ocupado pela Sociedade São Vicente de Paulo, na saída para Indaiatuba e Campinas), como os mortos para o Cemitério da Saudade ou para o Cemitério Velho, na Praça XV. Trabalhava também ao mesmo tempo, como zelador da igreja matriz e sua presença era imprescindível nas procissões do Senhor Morto, quando carregava a cadeira da “Verônica” e nas cerimônias de Lava-pés, quando representava um dos apóstolos.
Andava sempre pela cidade com um porrete, que servia para ameaçar, afastando ameaçadoramente os moleques que o chamavam pelo apelido que ele detestava (“Zé Batatão”!, “Zé Batatão”!), que às vezes era substituído por um assobio característico (fi-fi-fif-fiu), que reproduzia seu apelido. Quem passava pelas proximidades da igreja via aquele velhinho, mesmo quando tinha dificuldade de andar, brandindo seu porrete, enquanto proferia palavras ininteligíveis contra aqueles que o perturbavam.
Ele viveu até 30 de janeiro de 1964, quando veio a falecer no Abrigo de Velhos (atual Lar Frederico Ozanam), para onde foi levado depois do falecimento de sua esposa, que era conhecida como “Nhá Cecília”.
Em seus 91 anos de vida ele sofreu muito com as chacotas de que foi alvo, mas teve sua utilidade na prestação de serviços em momentos difíceis da vida da comunidade da qual ele fazia parte, seja no atendimento aos doentes, seja na simplicidade dos trabalhos que executava em favor da matriz de Monte Serrat. Por isso merece figurar também nesta galeria de saltenses que fizeram alguma coisa de útil pela cidade.
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