QUEM FOI QUEM
Paulo de Moraes, barbeiro e cidadão exemplar que se destacou como ciclista
Dentre os ciclistas com que Salto contou na época de ouro da modalidade na cidade e dentre os barbeiros que por maior tempo exerceu a profissão na cidade, destacou-se Paulo de Moraes, conhecido como “Souza”. O apelido teria sido dado por um outro barbeiro da cidade, João Caldarelli, por sua semelhança com um jogador de futebol da década de 1950. Paulo exerceu a profissão durante cerca de 60 anos, pois trabalhou até pouco tempo antes de falecer. Começou quando tinha 16 anos de idade, época em que trabalhou como aprendiz de Alfredo Gonzales, cujo salão se localizava na Rua 9 de Julho.
Passou pelas barbearias de outros militantes da profissão na época, como de Antonio Ferreira, na Vila Nova, para o qual, aliás, prestou serviços em 8 vezes alternadas, passando nos intervalos pelos salões de Manoel Servilha e João Caldarelli, até que montou seu próprio salão, em 1951, na Rua 9 de Julho, esquina com a Rodrigues Alves, onde posteriormente funcionou a Livraria Bethânia e atualmente a Droga Zito.
Paulo nasceu em Salto em 22 de janeiro de 1929 e durante toda sua vida demonstrou ser um cidadão exemplar, cônscio de suas responsabilidades e tratando a todos com simpatia, razão pela qual adquiriu muitos admiradores. Havia nas décadas de 1940, 1950 e até 1960 um preconceito contra os negros na cidade e isso se fazia notar nas barbearias, onde era colocado o aviso “Com distinção de cor”, ou seja: eram exclusivos para brancos e os próprios negros evitavam adentrar nesses salões.
Paulo, porém, não concordava com a distinção de raça e cor e contava um fato que provocou sua admiração: certa feita veio para Salto um policial da raça negra, que ao entrar pela primeira vez numa barbearia saltense o barbeiro ao invés de lhe perguntar: “Não leu o aviso?”, como faziam outros colegas de profissão, antes que o policial respondesse, o barbeiro avisou-o que não haveria problema. E que iria fazer sua barba, quando desejasse, na hora do almoço, quando fechava as portas, para evitar que algum freguês questionasse a presença do negro, como era comum na época.
Ele aposentou-se em janeiro de 1977, mas continuou trabalhando em seu salão na Rua 9 de Julho, ao lado do Palácio dos Calçados e de sua residência. Uma curiosidade é que Paulo era o barbeiro preferido dos padres da matriz de São Benedito, dentre eles o cônego Vicente Formigão, padres Paulo Haenraetz, Geraldo e João Batista, além do juiz de Direito, dr. Clineu de Mello Almada.
Ciclista – Ainda jovem e durante muitos anos Paulo praticou o ciclismo e, como se destacava na modalidade, foi convidado a participar de corridas que se realizavam em Salto, cidades da região e até mesmo nos Jogos Abertos do Interior (naquela época não existiam os Jogos Regionais). Aliás, ele foi o melhor saltense classificado nos Jogos Abertos de 1952, realizados em 1952, em Ribeirão Preto. Juntamente com Ayr Galafassi, que foi o melhor ciclista saltense em todos os tempos, com Giácomo (Nêgo) Dalla Vecchia, Jacyr Painelli (que também tiveram destaque), Odelo Cavalcante Maranhão (Bimbo), Renardo Pravatta e outros, Paulo participou de muitas corridas, numa época em que havia muitos ciclistas categorizados. Com mais idade, foi também um praticante da natação, frequentando as piscinas nos clubes da cidade, como A.A. Saltense e Guarani Saltense A.C., participando inclusive de provas internas.
Família – Paulo era casado desde 26 de setembro de 1957 com Maria Rodrigues, com quem teve dois filhos: Paulo e Celso.
Faleceu em 28 de novembro de 2009.
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