QUEM FOI QUEM
Alexandre Panossian, armênio com importante participação no comércio local
Quando Salto contava com poucas casas comerciais, os que militavam nesse ramo de negócio podiam ser considerados verdadeiros desbravadores, pois a população não passava de 15 ou 20 mil habitantes e por isso a quantidade de clientes não era expressiva. Tínhamos na época (início da década de 1920) duas ou três lojas de roupas e de calçados de bom porte, como a Loja Dotta, conhecida também como “Loja da Francisca”, a Casa Rodrigues, de José Rodrigues Escanho e a Casa Armênia, de Alexandre Panossian. Este último não era brasileiro, mas praticamente se tornou brasileiro e saltense, pois viveu a maior parte de sua vida no Brasil e em Salto. Nascido na Armênia em 14 de fevereiro de 1890, ele chegou em 1916 ao nosso país, juntamente com seus primos Abcar e Vartan (este também dono de uma loja na cidade).
Deixou seu país, situado na Ásia, ainda quando ocorria a 1ª Guerra Mundial (de 1914 a 1918) e a Armênia também se envolveu no conflito. Ela era alvo da cobiça de outros países mais poderosos, tendo sido invadida pelos turcos, o que levou muitos armênios a viajar para outros pontos do Mundo onde os efeitos da guerra não se faziam sentir com intensidade, dentre eles o Brasil. Alexandre e seus irmãos escolheram Salto para viver, começando uma nova etapa de suas vidas. Iniciaram no comércio seguindo uma tendência que sempre foi dos armênios: vender roupas, calçados e outros artigos, visitando as casas, pois ainda não possuíam uma loja para receber os fregueses.
A família de Alexandre alugou uma casa para morar da família Duarte, avós de Anselmo e Aurora. Havia a dificuldade com o idioma, mas aos poucos ele e seus irmãos foram se adaptando e conseguiam ganhar o suficiente com suas vendas para se manter e ainda conseguir os necessários lucros. Isso levou Alexandre a adquirir um terreno na esquina das ruas 7 de Setembro (atual Monsenhor Couto) e Floriano Peixoto, onde viria a construir, com muitos sacrifícios a Casa Armênia.
Segundo relata Aurora Duarte Arruda Behmer em crônica publicada no jornal Taperá em agosto de 1984, “No decorrer de suas atividades comerciais e sociais, Alexandre conquistou muitas amizades. Seus negócios progrediram e ele soube se entrosar em nosso meio como se fosse um dos nossos. Sua única preocupação era a lembrança da pátria e dos parentes que havia deixado na longínqua Armênia, que possuía uma história de três milênios”. Depois de muita luta, conseguiu trazer sua irmã Mânia, que também logo se adaptou ao novo país, vindo mais tarde a se casar com João da Rós. Logo a Casa Armênia se tornou um dos principais estabelecimentos comerciais da cidade, constituindo-se em indispensável para a vida da população saltense, a quem serviu sempre com muita eficácia.
Aurora Duarte escreveu em sua crônica que “Alexandre era um homem generoso, de um caráter firme e elevado e trazia em si aquela força inquebrantável de um povo sofrido, de fibra forte e que nunca se deixou abater”. Ele participava da vida social da cidade e até mesmo de uma atividade esportiva, o jogo de bochas, participando dos torneios que aconteciam na Cooperativa Operária Saltense, onde era presença constante.
Família – Alexandre casou-se em Salto com Maria Pereira de Castro, com quem teve os filhos Marta, Carlos, Margarida, Nulbar, Maritza e Kevork. Após Maria vir a falecer, ele contraiu segundas núpcias com Haguay Bodjian, com quem permaneceu até o falecimento, que ocorreu em 15 de fevereiro de 1963. Ele tinha ido comemorar seu 73º aniversário, em São Paulo, e quando atravessou uma avenida, de volta a Salto, foi atropelado e não resistiu aos ferimentos.
Logo após a morte do seu pai, Nulbar e Kevork assumiram a direção da Casa Armênia, que funcionou até junho de 1984, quando fez uma grande liquidação.
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